Que as redes sociais são locais propícios para se fazerem ataques mentirosos a quem quer que seja, com vistas à atingir milhões de pessoas, ninguém mais tem dúvidas. Se levarmos tal afirmação ao campo da política, então, poucos contestariam que tal expediente se tornou uma prática amplamente utilizada por quase todas associações políticas.
Ora, sabendo disso, não deveria surpreender que na atual conjuntura política brasileira, veicular mentiras no intuito de aumentar a instabilidade política e diminuir a popularidade do atual Governo é um prato cheio para os inimigos, críticos e antipatizantes do Governo e das agremiações políticas que o compõe. Prova disso é que, das eleições pra cá, temos visto um aumento exponencial de mentiras compartilhadas por milhões de pessoas com o objetivo único de atacar a imagem do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva, da atual presidenta Dilma Rousseff e, obviamente, do Partido dos Trabalhadores.
Pois bem, ontem (05), Leonardo, um amigo uspiano, publicou em sua conta do Facebook um exemplo disso justamente para criticar as mentiras que estavam sendo divulgadas nas redes sociais por pessoas mal intencionadas visando, sobretudo, promover a desinformação generalizada. O exemplo que ele utilizou foi uma imagem divulgada pelo perfil DILMA NA BALADA, em fevereiro deste ano, que colocou em circulação a seguinte informação:

Que o brasileiro pode ser considerado heroico por uma série de razões, disso não cabem dúvidas, no entanto, o autor da imagem acima faz referência à sua capacidade de viver com um salário baixo, pagando uma elevada carga de impostos em produtos como um Toyota Corolla ou a gasolina, por exemplo. Vê-se logo que o foco da crítica recai sobre a carga tributária do Brasil sob o governo do PT.
Não é necessário ser muito inteligente para constatar que se trata da velha crítica liberal de como os governos oprimem a economia e deveriam, ao contrário do que faz o atual governo, diminuir a carga tributária. Não que a crítica seja inválida. Cada um tem a liberdade para fazer a crítica que quiser, mas o modo como se faz essa crítica é que se está questionando aqui, por ser covarde e mentirosa.
Covarde porque tenta esconder os interesses de um grupo privilegiado da sociedade por trás de uma “bandeira” popular em busca do apoio dessa camada social para a realização das demandas daquela elite. Percebam que a imagem não clama pelo aumento do Salário Mínimo, mas sim pela redução dos impostos e os exemplos dos produtos escolhidos para a crítica, em si, são indicativos claros do grupo de pessoas que criou esta imagem e a quem ela é originalmente destinada.
Mentirosa porque os números utilizados na mensagem foram inflacionados/deflacionados justamente para causar uma impressão de que o brasileiro está sob uma pressão tão grande, que só mesmo sendo heroico para sobreviver no Brasil sob o regime petista.
Peguemos os valores da gasolina e do Salário Mínimo nos diferentes países citados para mostrar como esses dados são mentirosos (a escolha da gasolina e do Salário Mínimo devem-se pelo fato destes terem sido os elementos “populares” escolhido pelos autores da imagem para ampliar seu público-alvo).
Usando os dados veiculados na imagem, se um Salário Mínimo brasileiro (R$ 788,00)) compram 220 litros de gasolina, então o litro da gasolina no Brasil custaria algo em torno de R$ 3,58 o que, de princípio, já não é verdade. Nos postos paulistanos (ao menos na zona sul) a média é R$ 3,00, chegando a custar até R$ 2,90 em muitos postos. Vamos agora analisar essa relação nos demais países mencionados, onde os valores dos salários mínimos são:
- Argentina: PA$ 4716,00 (convertidos para R$ 1.656,73)
- Alemanha: E$ 1473,33 (convertidos para R$ 5.183,00)
- Estados Unidos: aproximadamente US$ 1200,00 / mês tomando como referência os US$ 7,25 (por hora) equivalente ao Salário Mínimo federal em 2015. (convertidos para R$ 3.801,24)
Seguindo essa mesma linha de raciocínio os valores da gasolina por litro para Argentina, Alemanha e EUA, convertidos para reais seriam, respectivamente: R$ 3,20; R$ 3,91 e R$ 1,83.
Ora, bastaria comparar esses valores com os preços praticados nesses países para ver como os mesmos são tão mentirosos quanto o valor alegado para o Brasil. Há sites que registram, mensalmente, a evolução dos preços do combustível em todos os países, como o GlobalPetrolPrices, por exemplo. Segundo este sítio, o preço médio da gasolina nos quatro países em 01/06 eram:
- Brasil: US$ 1,05 ou R$ 3,32 (dólar a R$ 3,16 em 05/06/2015)
- Argentina: US$ 1,34 ou R$ 4,23
- Alemanha: US$ 1,62 ou R$ 5,12
- EUA: US$ 0,78 ou R$ 2,46
Vê-se que dentre os quatro países, o Brasil tem o segundo menor preço, abaixo apenas dos EUA. Comparando os valores da imagem com os valores calculados acima, temos o seguinte cenário:
- Brasil: R$ 3,58 x R$ 3,32; (+ 8%)
- Argentina: R$ 3,20 x R$ 4,23 (- 24,3%)
- Alemanha: R$ 3,91 x R$ 5,12 (- 23,6%)
- EUA: R$ 1,83 x R$ 2,46 (- 25,6%)
Fica evidente, portanto, como a imagem inflaciona o valor da gasolina brasileira e deflaciona o valor do mesmo produto nos demais países, deixando claro a má intenção dos criadores dessa imagem.
Para concluir, e retornando à questão implícita no título deste post, não duvido que o povo brasileiro seja heroico, absolutamente. No entanto, não creio que esse heroísmo deva-se ao fato de pagarmos muitos impostos em Corollas ou no litro da gasolina. Acredito que boa parte do heroísmo brasileiro está em sua resiliência à uma elite tão violenta e oportunista como a nossa. Acho ainda que seria mais heroico se conseguisse realizar transformações profundas e efetivamente tomasse o poder em suas mãos. Mas essa é uma outra história.
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