Um dia após as eleições municipais e muitos analistas já apontam o número de prefeitos eleitos em 2020 por partidos como o MDB, o PSDB, o DEM, o PSD, o PP, o PL e afins como índice da ascensão da centro-direita no país. Eu não vejo dessa forma. Ao contrário. Entendo o resultado dessas eleições como o primeiro passo da recuperação dos partidos de centro-esquerda em grandes centros. Vejo-o muito mais como um sinal de esperança para 2022 do que como uma vitória do conservadorismo.
Não é novidade que as pequenas e médias cidades do interior do país são redutos políticos das elites conservadoras locais que, por sua vez, se viam representadas municipalmente por grandes partidos como os antigos PMDB e PFL, por exemplo. A fragmentação sucessiva desses partidos em outras legendas (PFL => DEM => PSD ou PMDB => PSDB) dividiu os votos que essa elite recebia, mas o cenário geral continuou o mesmo. A penetração dos partidos de centro-esquerda nessas pequenas e médias cidades sempre foi (e ainda é), muito difícil. Tal como nos EUA, são as cidades mais populosas que concentram os votos em representantes de partidos com pautas mais progressistas como o PT, o PSOL, o PSB e o PDT, por exemplo.
As eleições de 2016 e 2018, no entanto, resultaram no avanço dos candidatos da centro-direita justamente sobre os espaços duramente conquistados pela centro-esquerda desde o surgimento do PT, no começo dos anos 1980. O que testemunhamos de ontem para hoje, portanto, parece ser um último movimento daquele avanço assustador de 2016, uma vez que já se percebe, nitidamente, uma recuperação da esquerda nos grandes centros: Boulos (São Paulo), Manu (Porto Alegre), Campos/Arraes (Recife), Edmilson (Belém), Sarto (Fortaleza), Coser (Vitória), Elói Pietá (Guarulhos) e até mesmo o enfraquecimento de Crivela, no Rio de Janeiro. Nesta última cidade, cumpre dizer, a esquerda não colocou seu candidato na disputa do segundo turno muito mais por um erro estratégico do que pela força dos adversários.
Ao contrário de quem se assusta com os números alcançados pelos partidos de centro-direita nessas eleições, portanto, eu me sinto é animado e bastante esperançoso para 2022. O sinal que vejo saindo das urnas é o de uma recuperação da centro-esquerda nos grandes centros, que fica muito evidente diante do número de vereadores eleitos por partidos como o PSOL, o PT, o PDT, o PSB, o PCdoB e a REDE pelo Brasil. Mais ainda frente ao aumento da representatividade das mulheres, dos negros e até mesmo de transgêneros nesses grandes centros. O grande derrotado nas eleições de 2020, pelo que se pode ver, é mesmo Bolsonaro e o bolsonarismo.