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MEC: Capes garante 90% da verba para pós-graduaçao em 2015

publicado originalmente no Geledés e no Brasil 247 | 12 de julho de 2015

O Ministério da Educação anunciou, na noite deste sábado (11), que a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) garante que 90% da verba prevista para os programas de pós-graduação em 2015, o equivalente a R$ 1,65 bilhão, será mantida; o MEC diz ainda que nenhuma bolsa de estudo será interrompida; comunicado foi divulgado depois de universidades federais terem afirmado que o corte foi de 75%; em seu perfil no Facebook, o ministro da Educação, Renato Janine Ribeiro, afirmou que a Capes vai manter o pagamento de 100% das bolsas para estudantes de mestrado e doutorado e que, apesar de a situação não ser ideal, não se justifica pânico ou alarme

Do Brasil247

O Ministério da Educação anunciou, na noite deste sábado (11), que a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) garante que 90% da verba prevista para os programas de pós-graduação em 2015, o equivalente a R$ 1,65 bilhão, será mantida. Em nota, o MEC diz ainda que nenhuma bolsa de estudo será interrompida.

O comunicado foi divulgado depois que universidades federais terem criticado o anúncio da Capes de redução dos repasses previstos para as instituições. Em seu site, a Universidade Federal da Bahia (UFBA) afirmou ter sido informada que o valor esperado para seus programas de pós-graduação seria de R$ 4,2 milhões, mas que recebeu da Capes a notícia de que o valor foi reduzido para R$ 1 milhão, uma redução de cerca de 75%.

Na Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), um comunicado afirma que o Conselho Universitário da instituição (Consuni) aprovou uma moção em defesa aos programas de pós-graduação, onde afirma que o corte de verbas é “inaceitável”.

“O anúncio de cortes de 75% dos mencionados programas coloca em risco o trabalho de muitas gerações que se dedicaram à organização da pós-graduação e afeta de modo irreparável cada um dos programas de pós-graduação da UFRJ e das demais universidades públicas. O inaceitável corte torna-se mais grave quando inserido no quadro mais geral de cortes orçamentários das Federais e dos contingenciamentos de exercícios anteriores”, disse o Consuni.

Em seu perfil pessoal no Facebook, o ministro da Educação, Renato Janine Ribeiro, afirmou que a Capes vai manter o pagamento de 100% das bolsas para estudantes de mestrado e doutorado e que, apesar de a situação não ser ideal, não se justifica pânico ou alarme. “Os programas continuarão a poder atender novos alunos e a dar-lhes bolsas. Onde está ocorrendo uma redução é no custeio”, afirmou ele, lembrando que, além do repasse da Capes, cada universidade tem seu próprio orçamento.

Ele lembrou que a Capes mantém 90% dos recursos previstos e que podem haver acréscimos “quando a economia melhorar”. “E isso, num momento de dificuldades na economia e na arrecadação. Se a situação não é ideal, nem por isso se justifica pânico ou alarme”, disse Janine.

Leia a íntegra da nota do MEC:

“A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) assegura o repasse de 1,65 bilhões de reais para os seus programas de pós-graduação (Proex, Prosup, Reuni e Proap). O montante é equivalente a 90% do valor previsto para 2015. O Ministério da Educação e a Capes enfatizam o compromisso com a pós-graduação e a pesquisa científica. Ressaltamos ainda que nenhuma bolsa de estudo será interrompida.”

Leia a matéria completa em: MEC: Capes garante 90% da verba para pós-graduação em 2015 – Geledés http://www.geledes.org.br/mec-capes-garante-90-da-verba-para-pos-graduacao-em-2015/#ixzz3fiGdSjiA
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O passado, essa grande nebulosa indiferenciada…

OS JOVENS QUE ESQUECEM A MEMÓRIA E A HISTÓRIA
por Umberto Eco – publicado em Geledés | 09 mai. 2015

umberto_eco

Umberto Eco é um filósofo, semiólogo, linguista e bibliófilo italiano. Atualmente é diretor da Escola Superior de Ciências Humanas da Universidade de Bolonha. 

É um truísmo que os jovens carecem de conhecimento histórico geral. Mas, na minha experiência, para muitos jovens o passado se achatou em uma grande nebulosa indiferenciada. É por isso que, em uma carta aberta publicada recentemente na revista italiana “L’Espresso”, aconselhei meu neto adolescente a exercitar sua memória aprendendo de cor um longo poema.

Eu temo que as gerações mais jovens de hoje corram o risco de perder o poder da memória, tanto a individual quanto a coletiva. Pesquisas revelaram os tipos de enganos que persistem entre jovens ostensivamente educados: por exemplo, li que muitos universitários italianos acreditam que Aldo Moro foi líder da organização militante Brigadas Vermelhas, quando na verdade ele foi primeiro-ministro da Itália e as Brigadas Vermelhas foram responsáveis por sua morte em 1978.

Escrevi a carta para meu neto em dezembro, mais ou menos na época em que um certo vídeo se tornou viral no YouTube. Era um episódio de “L”Eredità”, um programa de perguntas e respostas da TV italiana que parece escolher os concorrentes com base na boa aparência e na simpatia natural, além de um módico conhecimento geral. (Supostamente isto é para evitar encher o programa com pessoas lindas mas sem noção que espremem seus cérebros só para responder a perguntas de múltipla opção como: Giuseppe Garibaldi foi um ciclista, um explorador, um líder militar ou o inventor da água quente?)

Em um episódio, o anfitrião, Carlo Conti, pediu que os concorrentes identificassem o ano em que Adolf Hitler foi nomeado chanceler da Alemanha. As quatro opções de respostas eram: 1933, 1948, 1964 ou 1979. Os quatro concorrentes que tiveram a oportunidade de responder foram: Ilaria, uma jovem muito bonita; Matteo, um homem forte de cerca de 30 anos, cabeça raspada e corrente no pescoço; Tiziana, uma jovem atraente que também parecia ter cerca de 30 anos; e outra garota chamada Caterina, que usava óculos e tinha um ar de sabe-tudo.

Deveria ser universalmente conhecido que Hitler morreu no fim da Segunda Guerra Mundial, por isso obviamente a resposta só poderia ser 1933 – sendo as outras datas avançadas demais. Mas Ilaria respondeu 1948, Matteo 1964 e Tiziana 1979. Quando chegou a vez de Caterina, ela foi obrigada a escolher 1933, mas fingiu incerteza ao fazê-lo, fosse por ironia ou por surpresa.

Conti também perguntou aos candidatos em que ano o ex-primeiro-ministro italiano Benito Mussolini se encontrou com Ezra Pound; novamente, as opções eram 1933, 1948, 1964 ou 1979. Ninguém é obrigado a saber quem foi Ezra Pound (para constar, um poeta e crítico americano), e se não tivesse sido um teste de múltipla opção eu não poderia ter dado o ano exato. Mas, como Mussolini foi assassinado em 1945, a única resposta possível era 1933. (Confesso que fiquei incrédulo ao saber a extensão em que o ditador se mantinha atualizado sobre poesia americana.) A bela Ilaria, suplicando indulgência com seu doce sorriso, chutou 1964.

Conti não pôde esconder sua incredulidade, nem muitas das pessoas que assistiram e comentaram o vídeo no YouTube. Mas esse momento foi o indício de um problema maior: os quatro concorrentes, que tinham todos aproximadamente de 20 a 30 anos e que podemos supor fossem bastante representativos de sua faixa etária, viram as quatro datas como parte de um passado genérico que ocorreu antes de eles nascerem. Quem sabe se não teriam caído na mesma armadilha se uma das opções de resposta fosse 1492?

Nossa era não é a primeira a experimentar essa homogeneização do passado. Considere por exemplo “O Casamento da Virgem”, que Rafael concluiu em 1504: a pintura mostra pessoas vestidas em trajes da era renascentista, apesar de a cena que retrata evidentemente ter ocorrido muito antes do Renascimento. Hoje é muito mais difícil justificar essa imprecisão das linhas, diante da quantidade de informação histórica amplamente disponível na Internet, em filmes e na televisão. Será possível que nossos quatro candidatos não soubessem distinguir entre o período em que Hitler entrou em cena e aquele em que o homem fez o primeiro pouso na lua? Será que para alguns (ou mesmo muitos) jovens de hoje o conceito de história é unidimensional?

Ainda tenho esperanças, porque soube desse vídeo no YouTube por meu neto de 13 anos e seus colegas de escola, que riram e zombaram quando me contaram a respeito. Talvez alguns jovens estejam aprendendo o valor da memória, afinal.

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[GELEDÉS] Sociólogo do IESP-UERJ analisa o racismo no Brasil

Hum Historiador repercute o texto publicado originalmente no portal Geledés – Instituto da Mulher Negra – em 15.fev.2014 comentando pesquisa do sociólogo Carlos Costa Ribeiro que faz uma análise do racismo no Brasil.

PESQUISA ANALISA RACISMO NO BRASIL

Quanto mais escura a cor da pele, menos renda, menos educação, menos oportunidades. O inverso também é verdadeiro: quanto mais clara a cor da pele, mais renda, mais educação, mais oportunidades. Para além da diferença aguda entre os pontos mais extremos da desigualdade na estratificada sociedade brasileira – na ponta mais alta, homem, branco, urbano e rico; na mais baixa, mulher, preta, rural e pobre -, a pesquisa A Dimensão Social das Desigualdades, do sociólogo Carlos Costa Ribeiro, encontrou uma escala de desigualdades que acompanha de forma contínua o escurecimento da cor da pele.

Os dados mostram como a cada ponto a mais no escurecimento da cor da pele corresponde também um ponto a menos na escala de oportunidades sociais e econômicas (veja gráfico na próxima página). “Com isso, consigo refinar a percepção sobre desigualdade racial”, diz Ribeiro, do Instituto de Estudos Sociais e Políticos (Iesp), da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj). A proposta de trabalhar com um amplo espectro de cores de pele – 14, autodeclaradas pelos seus entrevistados – está ancorada na história da miscigenação racial no país. No Brasil, explica, raça diz mais respeito à aparência física e à cor da pele do que à origem. Tonalidade da pele, tipo de cabelo, formatos de nariz e de boca são traços distintivos de maior ou menor proximidade com o branco, expressão física dessa miscigenação, e melhor representação da realidade social do que a mera divisão entre brancos e não brancos.

Para recuperar os aspectos históricos do racismo brasileiro, Ribeiro voltou a 1890, ano do primeiro censo demográfico no país, quando 56% da população era negra. O fim da escravidão havia sido decretado dois anos antes. Em seguida, uma política de “embranquecimento” estimulou não só a vinda de imigrantes europeus como também os casamentos inter-raciais, início da miscigenação brasileira: “Havia uma ideologia racista que considerava os brancos superiores aos negros, e esses casamentos eram uma forma de projetar o embranquecimento da população”, afirma.

O censo de 1940 já mostrava os primeiros resultados dessa política: 64% dos brasileiros foram identificados como brancos e apenas 36% como negros. São números que se mantiveram mais ou menos estáveis até o fim dos anos 1990, quando 54% da população era autodeclarada branca e havia 46% negros, considerando a soma de pretos e pardos. No censo de 2010, o percentual de brancos caiu para 47% – 91 milhões de brasileiros -, inferior aos 50% que se declararam pretos ou pardos. Do total de 97 milhões de negros, 82 milhões são classificados como pardos.

É nesse ponto que reside o ineditismo da pesquisa, levantamento de dados em uma amostra de oito mil domicílios brasileiros, o equivalente a 3,3% da população. Ao identificar os muitos tons de pele do grande grupo de pardos e, portanto, ao representar melhor as distinções existentes na ampla camada que separa brancos e negros, o estudo mostra que o racismo não está apenas nas pontas extremas entre o branco e o preto, mas se dá em cada um dos degraus de cor que separam, por exemplo, o moreno do moreno claro, o mulato do moreno escuro, o jambo do castanho.

“É uma forma de modelar, de nuançar a desigualdade racial brasileira, em vez de trabalhar apenas com o grande contraste que há entre brancos e negros”, aponta. Ao observar essas nuanças, Ribeiro constata que, no Brasil, uma pessoa de pele branca, mesmo de origem negra, tem mais chances de ser socialmente percebida como branca, independentemente da cor da pele dos pais. No entanto, suas chances de mobilidade social e econômica serão menores, já que a desigualdade de oportunidades está relacionada às origens familiares e as condições socioeconômicas de origem.

Ribeiro observa que sua pesquisa faz sentido no Brasil não apenas porque aqui a divisão entre brancos e não brancos mascara uma realidade social mais complexa, mas sobretudo porque a história do racismo no país passa por uma miscigenação que os Estados Unidos, por exemplo, não experimentaram.

“O enigma da desigualdade racial no Brasil está no fato de que as relações sociais horizontais [entre pessoas da mesma classe social] são relativamente fluidas e flexíveis, mas as relações verticais [entre classes sociais diferentes] são profundamente estratificadas”, diz. Nas relações verticais, pesquisas como essa do Iesp percebem a desigualdade entre renda, educação e ocupação entre brancos e negros, indicadores da extrema rigidez da mobilidade social dos negros. Já nas relações sociais horizontais, os vínculos sociais nas mesmas classes sociais seriam mais flexíveis.

“Comparações entre Brasil e EUA são traiçoeiras, porque os modelos de racismo são diferentes”, argumenta a secretária de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Luiza Bairros. Ela se refere ao fato de que, apesar da miscigenação e da cor da pele, há discriminação mesmo nas situações de sociabilidade horizontal. Ela toma como exemplo uma quadra de escola de samba que, observada por um pesquisador americano, pode dar a impressão de haver maior nível de igualdade entre negros e brancos do que de fato a população negra experimenta no seu cotidiano.

“Em outros espaços que sejam de maioria branca, não há a mesma flexibilidade. Essas relações sociais aparentemente igualitárias só ocorrem em espaços de maioria negra”, diz. Com isso, Luiza ataca também o que considera outro mito do racismo brasileiro: o de que não há segregação espacial. “São sutilezas que precisam ser observadas, sob pena de se considerar que as relações sociais horizontais se dão independentemente da cor da pele.” Assim, o degradê de cores da sociedade pode contribuir para perceber melhor a influência de cada tom da cor da pele na discriminação racial.

A pesquisa chega como parte de uma longa trajetória de trabalhos sobre racismo, que começa com Gilberto Freyre, nos anos 1930, passa pelos estudos do sociólogo Carlos Hasenbalg, autor de “Discriminação e Desigualdades Raciais no Brasil” (1979), e tem seu ponto fundamental de inflexão com o economista Ricardo Henriques nos anos 90. Então pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Henriques já argumentava que o racismo é o núcleo duro da desigualdade brasileira. Afirmação que se deu em um momento político em que o debate sobre cotas, ações afirmativas e políticas públicas criava o que ele e Ribeiro consideram uma falsa disputa: o que é mais importante, a discriminação racial ou a de classe? “Não gosto da ideia de precedência”, afirma Henriques, hoje superintendente do Instituto Unibanco, onde se dedica a projetos de educação para jovens, um dos grandes gargalos da mobilidade social brasileira. “Embora o elemento classe componha a desigualdade, é impossível tirar da história do país a questão racial”, comenta.

Ao mostrarem o degradê da desigualdade racial, Ribeiro diz que seus dados pretendem contribuir para superar essa dicotomia que marca o debate brasileiro sobre desigualdade. “A dicotomia entre classe e raça não faz sentido no Brasil. São as duas coisas, até porque não existe uma fronteira absolutamente clara entre elas”, defende ele. No argumento de que raça é o núcleo duro da desigualdade brasileira, como defendido por Henriques, há um objetivo político determinado: o desenvolvimento de políticas públicas que enfrentem a desigualdade racial sem estabelecer precedência da classe em relação a raça.

“Na cultura das gestões públicas, no desenho das políticas públicas, o racismo entra como uma questão muito remota. Sem o elemento racial, pode-se até fazer uma importante política que enfrente a desigualdade de renda e mesmo assim não terá havido o enfrentamento da diferença”, diz Henriques. A confirmar seus argumentos estão os dados de renda recém-divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), indicando que, entre 2003 e 2013, a renda da população negra – aí somados pretos e pardos – cresceu 51,4%, enquanto a da branca aumentou apenas 27,8%. Apesar do expressivo crescimento, a renda dos negros corresponde apenas a 57,4% da renda dos brancos.

Em grande medida, o alto percentual de crescimento entre os negros ocorre pelo que as pesquisas de Henriques já haviam detectado no fim dos anos 1990: há uma sobrerrepresentação de negros na população pobre. Em 1999, o pesquisador contabilizou que os negros eram 45% da população, mas eram também 64% dos pobres e 69% dos indigentes. Na medida em que cresce a renda média dos pobres, como ocorreu na última década, cresce necessariamente a renda média dos negros.

“Pretender enfrentar primeiro o problema de classe é acreditar que se pode dar conta da desigualdade em fases e em algum momento chegará aos negros”, diz Henriques. Ao borrar as fronteiras que se pretendiam nítidas no par brancos e não brancos, Ribeiro se alinha à argumentação de Henriques: se a desigualdade social brasileira é pior para aqueles que têm a cor da pele mais escura, políticas que apenas trabalhem com distribuição de renda, sem levar em conta o fator racial, vão alcançar por último o mais preto, que é também o mais pobre e o que tem menos oportunidades.

“No Brasil, como não é possível pensar raça e classe como grupos separados, trabalho com modelo aditivo em que se somam renda, família de origem, raça, gênero, região”, diz Ribeiro. É a partir desse modelo que ele pode encontrar não apenas os extremos – homem branco urbano e rico versus mulher negra rural e pobre – como perceber que em cada ponto da escala de cores há um tipo de discriminação e desigualdade específica.

Com os dados que levantou, a pesquisa caminha na contramão de discursos que apontam para a possibilidade do que alguns estudos sobre desigualdade racial chamam de “embranquecimento por dinheiro”. Como nas estatísticas a cor é autodeclarada, o embranquecimento se daria como parte de processos de ascensão social. Quanto maior a renda, mais aquele que se declarava preto pode passar a se declarar pardo e o pardo pode se declarar branco. No degradê da discriminação percebido por Ribeiro, esse “embranquecimento” tem limites explícitos. “Pode ser uma estratégia para enfrentar a barreira do preconceito”, diz Ribeiro.

“Ainda que as pessoas de pele mais escura possam tentar, é como se a pele negra tivesse um valor em si que não pode ser ultrapassado pela renda”, observa Luiza. “É muito comum no Brasil que as pessoas de pele mais escura que se declaram negras sejam discriminadas em espaços majoritariamente brancos”, observa a secretária, citando como exemplo as dificuldades que os alunos negros cotistas têm enfrentado nas universidades federais. “O que se percebe é que, numa conjuntura de melhoria nas condições de vida nas pessoas negras, as discriminações aumentam, porque cada vez mais negros entram em espaços que eram exclusividade de brancos.”

Um sinal de que o racismo é o núcleo duro da desigualdade brasileira pode ser o fato de que acesso à renda não é suficiente para enfrentar a discriminação. Nesse aspecto, o diretor da Anistia Internacional no Brasil, Atila Roque, afirma que a população negra ainda é a mais discriminada, por exemplo, nas abordagens policiais e na violência de Estado.

“O que se percebe no Brasil é que, apesar das políticas públicas que promoveram melhoria de renda e até de oportunidades e mobilidade social, a população negra ainda é a mais discriminada. Isso se expressa, por exemplo, no chamado racismo institucional, como no acesso das negras a serviços de saúde reprodutiva, nas abordagens policiais e na violência de Estado em geral. Jovens negros também estão entre as principais vítimas de homicídios, tragédia que não tem merecido a devida atenção das políticas públicas. O racismo no Brasil é fator central de uma estrutura social que distribui desigualmente o poder político, a distribuição dos recursos e o acesso aos direitos humanos fundamentais”, afirma.

Por fim, há um fenômeno novo percebido tanto pela secretária Luiza quanto pelo sociólogo Ribeiro: há um processo de escurecimento da população, detectado não apenas nos dados do Censo de 2010, que vem sendo confirmado pela última Pnad. Sobretudo entre a população jovem, há uma tendência ao escurecimento que pode estar relacionada com a possibilidade de obter as recentes vantagens conquistadas pelas políticas de ação afirmativa. “Um dos aspectos importantes da discriminação racial no Brasil é a diferença entre a maneira como cada um se autodeclara e a maneira como é visto pelos outros”, afirma Luiza.

Se houver uma vantagem em se declarar negro, porém, a forma como a raça foi construída no país permite a fluidez na autodeclaração de cor. Até porque, ao enfatizar a cor da pele, e não a ascendência, o racismo brasileiro cria mais uma armadilha. Se os brasileiros fossem discriminados pela origem, e se em 1890 havia 56% de africanos no país, a categoria afrodescendentes se aplicaria hoje a todos os brasileiros. O termo afrodescendente foi criado em 2001 pela ONU para identificar a diáspora africana em vários países. No Brasil, acredita a secretária, acabou sendo usado de forma muito demagógica. “Dizer que somos todos afrodescendentes equivale a dizer que somos todos iguais, o que não é verdade”, diz. O que o trabalho de Ribeiro só reafirma: na sociedade brasileira, alguém está em posições mais ou menos vantajosas não pela origem, mas pelo lugar que ocupa no degradê da cor da pele.

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[RACISMO] Poluição visual e mau cheiro

Ainda há quem diga que não existe racismo no Brasil, ainda há quem acredite que realmente vivemos em uma linda “democracia racial”, onde todas as pessoas tem as mesmas oportunidades independente da cor de sua pele. Contudo, exemplos de racismo como os vistos nos chamados “rolezinhos” ou no caso de trabalhadores negros que foram ofendidos pelo administrador de um condomínio da Barra da Tijuca, são só os mais recentes casos de quão racista é a sociedade brasileira. Tal discrepância entre a realidade e o que certas pessoas e grupos dizem da realidade me faz perguntar por que o brasileiro não quer enxergar o racismo cotidiano? Por que o brasileiro prefere acreditar em pessoas como Ali Kamel e Demetrio Magnoli que, apesar da quantidade de exemplos de racismo que vê diariamente nas ruas, nos escritórios, nos departamentos de polícia ou nos shoppings, insistem em negar a existência dessa prática hedionda? Nos sentimos melhor escondendo de nós mesmos o fato de que SIM, NÓS SOMOS RACISTAS?

Abaixo, o Hum Historiador repercute notícia publicada no site do Geledés Instituto da Mulher Negra, nesta última sexta-feira (17) detalhando a agressão sofrida por trabalhadores que estavam diante de um condomínio comercial na Barra da Tijuca, apenas aguardando atendimento em uma clínica para fazerem exames médicos admissionais, quando foram ofendidos por um dos administradores do edifício comercial que disse que aqueles trabalhadores causavam “poluição visual e mau cheiro” no ambiente.

Trabalhadores negros causam “poluição visual e mau cheiro”, disse administrador de condomínio da Barra

O objetivo, para a maioria, era realizar os exames médicos para, em breve, iniciar um emprego novo. Mas a expectativa transformou-se em frustração na porta do condomínio comercial Le Monde, na Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio. Barrados na entrada, 18 trabalhadores ainda ouviram um administrador dos edifícios dizer que causariam “poluição visual e mau cheiro” no espaço, segundo consta no registro de ocorrência feito na 16º DP (Barra) na noite desta quarta-feira. A ofensa também foi presenciada por um PM que foi ao local atender o chamado.

O grupo começou a chegar ao endereço, situado no número 3.500 da Avenida das Américas, por volta das 8h. O destino de todos era a clínica BioCardio, especializada em medicina do trabalho, que ocupa três salas no quarto andar do bloco 7. Com idades variando entre 18 e 59 anos, alguns deles negros, boa parte dos pacientes iria começar a atuar em funções como pedreiro, ajudante de pedreiro e servente, entre outras, nas obras da Linha 4 do Metrô. Após realizarem exames de raio-x e de sangue num laboratório próximo, veio a surpresa: nenhum deles conseguiu autorização para se dirigir à clínica.

As tratativas com a equipe de segurança e com a administração do condomínio, capitaneadas pelo cardiologista Renato Sérgio Fernandes Pinto, sócio da BioCardio, duraram mais de quatro horas – em jejum para os exames, os trabalhadores não comiam nada desde a véspera. Apenas por volta de 15h, depois da ameaça do médico de acionar a PM, o acesso foi liberado. O grupo, contudo, não aceitou a oferta, e preferiu aguardar a chegada do policial. A essa altura, já haviam ouvido seguranças pedirem “para que não tocassem as paredes”. Mais tarde, na presença de um PM, escutaram Felipe Alencar Gilaberte, administrador do Le Monde, proferir a frase sobre poluição visual e mau cheiro.

– Houve uma total discriminação. E não foi a primeira vez, trata-se de uma briga antiga que eu tenho com o condomínio. Dizem que a nossa clínica não deveria funcionar aqui, devido ao tipo de público que atendemos. Acredito que me criam esse tipo de constrangimento para tentar forçar uma mudança de endereço – afirmou o doutor Renato Sérgio.

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O cardiologista Renato Sérgio Fernandes Pinto, sócio da clínica BioCardio Foto: Thiago Lontra

Ação contra o condomínio

A clínica BioCardio funciona no Le Monde há cerca de 2 anos. Em novembro do ano passado, o estabelecimento entrou com uma ação contra o condomínio por conta de problemas como o desta quarta-feira. O registro de ocorrência feito na 16ª DP, inclusive, será anexado ao processo.

Injúria e desobediência

No registro, que tem o administrador Felipe Alencar Gilaberte como alvo, constam os crimes de injúria e de desobediência – esse segundo por conta do desrespeito a uma lei que proíbe a restrição de acesso pela entrada social de edifícios residenciais e comerciais.

Versão do Le Monde

Na porta da delegacia, cercado por três advogados que inicialmente o aconselharam a não conversar com o EXTRA, Felipe deu a sua versão para os fatos. Segundo ele, a confusão na portaria ocorreu porque o grupo teria se negado a apresentar seus documentos de identificação.

‘Isso é história’

O administrador também negou que tenha ofendido os trabalhadores, embora o próprio PM tenha confirmado em seu depoimento o uso dos termos “poluição visual” e “mau cheiro”. Felipe acusou a BioCardio de ter inventado essa versão: “Isso é história do proprietário, que quer atender cem pessoas por dia”.

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Trabalhadores mostram documentos referentes ao caso Foto: Thiago Lontra

‘Aquilo é para carga e descarga’

Depoimento do operador de escavadeira Leonardo Moraes da Silva, de 31 anos

“Essa foi a terceira vez que fui nessa clínica, e em todas fui tratado da mesma forma: cheguei na portaria e me mandaram dar a volta por trás, para subir pelo elevador de carga. É humilhante, porque o próprio nome diz: aquilo é para carga e descarga. E o que disseram sobre os documentos é mentira, porque entreguei a minha carteira de habilitação na entrada e mesmo assim me fizeram passar por tudo isso”.

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[RACISMO] Aluno de 8 anos é impedido de fazer rematrícula em escola de Guarulhos

E no dia em que morre Nelson Mandela, somos informados pelo site do Geledés – Instituto da Mulher Negra, de uma escola em Guarulhos (grande São Paulo) que impediu um aluno de 8 anos de se rematricular, pois a mãe recusou a cortar o cabelo em estilo “Black Power” do filho.

Segundo a escola, COLÉGIO CIDADE JARDIM CUMBICA, “a professora havia orientado a mãe a cortar o cabelo do menino porque a franja estava atrapalhando a visão dele”. Não satisfeita com o absurdo, a escola ainda tenta culpar a mãe pela perda da rematrícula, alegando que “a mãe perdeu o prazo da rematrícula e que foi orientada a colocar o nome do filho na lista de espera”. A mãe do menino ainda tentou alegar que o cabelo não atrapalha em nada o filho e que o mesmo só fica na frente do olho se eles puxarem, mas a professora da criança teria dito à mãe que o cabelo do menino ‘Atrapalha os colegas a enxergar a lousa. É crespo e é cheio. Não é adequado esse cabelo. Venhamos e convenhamos mãe’.

Para quem ainda questiona se existe racismo no Brasil, está aí mais um exemplo da prática do RACISMO hediondo e detestável com o qual convivemos diariamente.

Abaixo, a notícia tal como veiculada no site do Geledés:

A TAL CONSCIÊNCIA HUMANA: ALUNO DE 8 ANOS COM CABELO BLACK POWER É IMPEDIDO DE FAZER REMATRÍCULA EM ESCOLA

A polícia abriu inquérito para investigar um caso de racismo em uma escola particular em Guarulhos, na Grande São Paulo. A escola mandou um recado para a mãe de um aluno dizendo que ele devia cortar o cabelo – estilo black power – que usava. A mãe se recusou a mudar o corte e quando ela foi rematricular o filho, a escola não aceitou.Uma faixa colocada na entrada da escola anuncia que estão abertas as matrículas para o ano que vem. Mas o aviso não vale para Lucas Neiva de Oliveira, de 8 anos, que já estudava no colégio Cidade Jardim Cumbica, em Guarulhos, na Grande São Paulo. Aluno da terceira série, ele passou de ano com notas altas. Mesmo assim, não pode continuar na escola.

Os desentendimentos começaram em agosto, quando Maria Izabel Neiva recebeu um bilhete da professora do filho: ela pedia que Lucas usasse um corte de cabelo mais adequado porque o garoto reclamava do comprimento. “O cabelo não atrapalha. O único jeito de chegar no olho é se eu puxar. Não tem como”, conta o menino.

Maria Izabel decidiu não cortar. Mandou um bilhete para a diretora, que respondeu: “É que realmente esse cabelo não é usado aqui no colégio pelos alunos”.

“Vim conversar com ela pessoalmente, passei umas duas ou três horas na sala com ela porque eu falei para ela assim: ‘Não atrapalha em nada o cabelo dele. Ele enxerga normalmente, o cabelo não está no olho, não atrapalha em nada’. E ela disse assim: ‘Atrapalha os colegas a enxergar a lousa. É crespo e é cheio. Não é adequado esse cabelo. Venhamos e convenhamos mãe’”, conta a mãe.

A mãe de Lucas disse que nesse fim de ano não recebeu nenhum aviso sobre a rematrícula do filho. Ficou preocupada e telefonou para o colégio perguntando sobre os prazos. Nessa semana, ela foi na última reunião de pais e foi à secretaria, onde foi informada que já não havia mais vaga para o garoto.

Outra mãe, que prestou depoimento à polícia como testemunha do caso, foi até a secretaria da escola depois de Maria Izabel e conseguiu rematricular a filha, que estuda na mesma classe de Lucas.

“Eu só quero os direitos dele estudar, entendeu? Eu pago a mensalidade tudo adiantado, a melhor educação para o meu filho. Eu já passei preconceito quando era criança e agora o meu filho passando por isso”, lamenta.

Após a queixa da mãe de Lucas, o delegado já instaurou um inquérito para apurar o caso. “Toda vez que a pessoa é impedida ou é tolida de entrar em algum estabelecimento, inclusive estabelecimento de ensino, que tenha a conotação que é por causa da cor ou do cabelo está caracterizado dentro da lei que apura os crimes raciais”, diz Jorge Vidal Pereira .

Em nota, a direção do Colégio Cidade Jardim Cumbica disse que a mãe perdeu o prazo da rematrícula e que foi orientada a colocar o nome do filho na lista de espera.

Afirmou ainda que o inquérito policial é absurdo e que a professora havia orientado a mãe a cortar o cabelo do menino porque a franja estava atrapalhando a visão dele, mas que isso não tem relação com o fato de Lucas não poder ser rematriculado.

De acordo com a polícia, a diretora da escola já foi notificada do inquérito e deve comparecer segunda-feira na delegacia para prestar depoimento.

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[RACISMO] O “humorismo” racista de Danilo Gentili

“O NOSSO PROBLEMA É A POBREZA,
NÃO UMA SUPOSTA DESIGUALDADE RACIAL”

por Ali Kamel em Não Somos Racistas.

Há quem acredite nas falácias de Ali Kamel, Demétrio Magnoli e companhia, e até venha a público dizer que o Brasil não é um país racista, embora cotidianamente vejamos exemplos justamente do contrário do que essas pessoas afirmam. No mês passado (04.out), o Geledés, Instututo da Mulher Negra, denunciou mais um dos claros exemplos de racismo em nossa sociedade ao publicar a fúria racista de Danilo Gentili (e seus fãs) contra Thiago Ribeiro (@LasombraRibeiro), um editor negro que, por criticar as piadas racistas de Gentili, acabou vítima do “humorista” e de seus fãs.

Como já havia publicado nesse blog (O Riso dos Outros: há limites quando o assunto é humor), entendo que há limites sim para o humor. Tais limites não são censura, mas respeito aos direitos que minorias conquistaram após duras lutas contra a opressão da ideologia burguesa travestida de humor e servindo como instrumento de manutenção de valores tais como a família patriarcal, que subjuga as mulheres e repudia os homossexuais, além do valor máximo a defender, o domínio do homem branco sobre os demais grupos étnicos.

Para quem não acompanhou a história, veja abaixo a denúncia do redator Thiago Ribeiro contra o “humorista” tal como publicado no site do Geledés.

A CERTEZA DA IMPUNIDADE: DANILO GENTILI OFERECE BANANAS A INTERNAUTA NEGRO PELO TWITTER
por Juliana Gonçalves | Geledés – Instituto da Mulher Negra

Twitter racista postado por Danilo Gentili

O redator Thiago Ribeiro, 29 anos, estava cansado dos ataques à comunidade negra realizados pelo comediante Danilo Gentili, quando editou e postou no Youtube um vídeo que enfatiza o conteúdo racista veiculado nas “piadas” do humorista da TV Bandeirantes.

Em sete horas, o vídeo obteve 800 visualizações, inclusive uma visualização do próprio Gentili, que conseguiu tirar o vídeo do Youtube por meio da cláusula de uso de imagem.

Fora do Youtube, mas ainda no Twitter e Facebook, o vídeo que rendeu muitos comentários foi o primeiro passo da ação que Ribeiro planejava. Ele escreveu uma carta-denúncia que cita trechos do programa televiso de Gentili intitulado “Agora é tarde”, que seria apresentada às autoridades e à TV Bandeirantes.

No último domingo, via seu perfil no Twitter (@LasombraRibeiro), Thiago interpelou Gentili sobre o conteúdo da carta e recebeu a seguinte resposta: “Sério @LasombraRibeiro vamos esquecer isso… Quantas bananas você quer pra deixar essa história pra lá?”.

Após alguns minutos, Gentili apagou o post, mas Ribeiro já havia salvado a imagem. Depois da mensagem do comediante, seus seguidores começaram também a agredir e reforçar o teor racista do comentário de Gentili com frases como: “Indo levar umas bananas pro @Lasombraribeiro para ele ficar quieto”, do perfil de @BiahNunes_; “(Sic) CHICOTADAS NELE pfvr”, escrito por @jaqporra e “Ele nem é tão negro, ele sabe fazer um Twitter e sabe tirar print” de @RaquelRangel0.

Esse último zombava de um comentário de Thiago Ribeiro que afirmava estar com todas as telas com as provocações racistas salvas. Todos os prints podem ser vistos na página do Facebook de Thiago.

Na segunda-feira, Ribeiro enviou uma denúncia ao Ministério Público de São Paulo e à Policia Federal sobre o ocorrido. Na terça-feira, foi à Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania e à Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância, onde foi feito o Boletim de Ocorrência. Thiago apresentou sua carta-denúncia, bem como os prints das agressões que sofreu na madrugada por Danilo Gentili e seus seguidores.

Ele também foi contatado por pessoas que trabalham junto à deputada estadual Leci Brandão para formalizar denúncia na Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo. “Tudo o que eu posso fazer, eu tenho feito. Cabe à Justiça impedir que Gentili continue rindo de nós. Temos que protestar contra esses humoristas racistas que acham que estão acima da lei”, afirmou Ribeiro em sua carta-denúncia.

Ribeiro pretende ainda questionar a TV Bandeirantes sobre como e por que aceitam a prática de racismo. “Sei que Danilo tem uma equipe de apoio da TV que o orienta, ou seja, o canal está conivente com a situação”, afirma.

A expectativa de Ribeiro é que Gentili seja condenado e saia da televisão ou ainda seja impedido de propagar piadas com teor racista, assim como se retrate com o povo negro. “Além disso, devo processá-lo por danos morais, já que ele fez uma postagem racista direcionada a mim”, conta.

A Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania garantiu a Ribeiro que vai atrás de cada postagem racista emitida também pelos seguidores de Gentili. Vale lembrar que Ribeiro tem o print de cada comentário.

Para assistir o vídeo acesse: https://www.facebook.com/renova.acaonegra

A certeza da Impunidade

A carta-denúncia redigida por Thiago Ribeiro baseia-se na Lei Estadual nº 14.187/2010 que fala de penalidades administrativas a serem aplicadas pela prática de atos de discriminação racial. E, na Lei Federal nº 7.716/1989, Artigo 20: “Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional”.

Os comentários de Gentili e seus seguidores são tão escancaradamente racistas que chegam a refletir a certeza da impunidade. Ainda na carta, Ribeiro pede “uma ação efetiva por parte da Justiça Brasileira para inibir o racismo explícito praticado normalmente no programa de Gentili”.

“Vou seguir em frente com essa história, e se o Estado se mostrar omisso, não hesitarei em levar essa questão às instâncias internacionais da OEA (Organização dos Estados Americano) e da ONU (Organização das Nações Unidas)”, finaliza.

Em apoio à iniciativa de Ribeiro, a partir do dia 03 de outubro, haverá um “tuitaço” com as hashtags #bastadehumorracista.

Para acompanhar os desdobramentos dessa história, siga o perfil de Thiago Ribeiro no Twitter: @Lasombraribeiro ou visite o seu blog: http://renovacaonegra.blogspot.com.br/

Gostaria de concluir o post relembrando trechos das participações do quadrinista André Dahmer e do escritor Antônio Prata no documentário O Riso dos Outros, sobre o tipo de “humor” explorado por Danilo Gentili:

ANDRÉ DAHMER: “Se o humor precisa de uma vítima, façamos a vítima certa, não é? Porque tem tanta gente que merece apanhar. Por que bater nos negros ou nas mulheres, não é? Que já apanharam bastante. Essa é a verdade”.

ANTÔNIO PRATA: “Quando você ofende alguém que não pode ser ofendido pelo poder dessa pessoa, esse humor é grande, que é passar a mão na bunda do guarda, que é uma imagem antiga do cara que não está nem aí, do libertário, digamos assim, que vai lá e passa a mão na bunda do guarda. Essa é uma piada que eu acho ofensiva, pro guarda, pra mãe do guarda, pra mulher do guarda, mas o guarda tem uma arma e um cassetete. Se você passa a mão na bunda do guarda e ele tem uma arma e um cassetete, isso é engraçado porque você está se arriscando. Agora, passar a mão na bunda do mendigo??? […] Então, quando você faz uma piada politicamente incorreta, no sentido, quando você é racista, você não está fazendo nada de transgressor. Nada de transgressor. Você está assinando embaixo da realidade. Você está falando assim: o mundo é desigual e eu estou rindo disso.”

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