O governo francês anunciou que vai adotar a TARIFA ZERO no transporte público da cidade de Paris em razão da poluição.
Segundo notícia divulgada pela revista Época, a medida do governo francês de não cobrar tarifa do transporte público por três dias, busca estimular os franceses a deixarem seus carros na garagem. Deste modo, desde a última sexta-feira (14) até hoje (16), metrôs, ônibus e trens são gratuitos na região de Paris e nas cidades de Caen e Rouen.
Para Bruno Calixto, autor de post intitulado A poluição do ar de Paris é mais chique publicado no Blog do Planeta, esta é uma decisão que não deve ser comemorada, como ocorreu nas redes sociais durante a semana, por tratar-se de uma medida emergencial de combate à poluição e não de uma política ambiental de fato. Ao comparar as reações da opinião pública através das redes sociais em relação às crises de qualidade do ar na China e na França, Calixto questiona a razão do tratamento dos dois casos ser tão diferente, argumentando que, no caso chinês, ao invés de louvar as medidas adotadas pelo governo, normalmente relatam-se os problemas de saúde decorrentes da poluição e as restrições vividas diariamente pela população atingida por este grave problema. Assim, ironicamente, o autor conclui que provavelmente a diferença de tratamento dado pelas redes sociais às medidas adotadas pelos governos chinês e francês para mitigar o problema da poluição do ar nesses países, deve-se provavelmente ao fato da poluição do ar parisiense ser mais chique do que o das cidades chinesas, conforme já indicava o título do post.
Ora, embora Bruno Calixto não tenha mencionado em seu texto, as reações de apoio às medidas adotadas pelo governo chinês podem não ter repercutido nas redes sociais com o mesmo vigor da medida francesa, pois não se teve notícias de que uma cidade tão relevante para a economia chinesa como Beijing ou Xangai, por exemplo, tenha liberado a tarifa de seus transportes público, tal como ocorreu com Paris nessa semana. De modo que a comparação feita por Calixto fica totalmente comprometida por não estar tratando de medidas compatíveis (como comparar proibição de fazer churrasco ao ar livre com a liberação da tarifa no transporte público)?
Entendo que, embora a medida seja emergencial e temporária, ela deve sim ser comemorada. Em primeiro lugar, porque trata-se de uma oportunidade para que a população tenha a experiência de se locomover livremente pela cidade, tendo acesso a qualquer ponto da urbe sem pagar nada a mais por isso além dos impostos já recolhidos. Em segundo lugar, pois não há notícias de que uma cidade tão grande e importante como Paris, ainda que de modo emergencial, tenha decidido liberar o pagamento das tarifas do transporte público e, portanto, trata-se de uma experiência que pode ser marcante para as lutas travadas pela população daquela cidade num futuro próximo, justamente por suscitar questionamentos sobre a real necessidade da cobrança dessas tarifas: a quem as tarifas do transporte atendem? No que elas nos limitam? Que tipo de problemas sociais elas podem causar?
Em nota divulgada nas redes sociais, o Movimento Passe Livre-RJ lembra bem que os reais motivos pelos quais a TARIFA ZERO não seja implementada mundialmente não são de ordem técnica, mas essencialmente políticos e econômicos. Destaque, por exemplo, para o interesses no favorecimento de empresários para a manutenção de uma população controlada e restrita em seu direito de ir. Interesses esses que, muito mais do que a solução para o atual caos urbano em que vivemos, privilegiam o domínio do automóvel particular sobre o transporte coletivo, aumentando não só a poluição do ar, como vinhamos falando, mas gerando um trânsito caótico e, sobretudo, não atendendo a população em suas necessidades mais básicas: locomoção. Nesse sentido, o do desserviço à população, vale destacar que uma das estratégias dos empresários do transporte público para terem mais pagantes por ônibus ou trem, é reduzir as frotas e a qualidade do serviço prestado. Além disso, a manutenção das tarifas no transporte público também podem ser responsabilizadas por diversos problemas sociais vivenciados pelos cidadãos, como o aumento do desemprego e a segregação sócio-espacial, culminando com o favorecimento da intensificação da violência policial como controle social e à violência urbana decorrente dela.
Enfim, diferentemente do que defendeu Bruno Calixto em sue post, entendo que apenas por suscitar tais questionamentos e um debate mais amplo sobre as reais necessidades de se manter a cobrança das tarifas no transporte público, a medida tomada pelo governo francês na suspensão dessas tarifas, ainda que de modo temporário, deve, sim, ser comemorada e servir de estímulo para que a população perceba cada vez mais a falta de necessidade da cobrança dessas tarifas e lute para a revogação total delas o quanto antes.