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Stella Maris: ação contra professora de Santa Catarina é mais uma ameaça contra a liberdade de expressão e de crítica na universidade

O Hum Historiador abre espaço para repercutir a entrevista da professora Stella Maris Scatena Franco, professora de História da Universidade de São Paulo, ao jornalista Luiz Carlos Azenha, do portal Viomundo, nesta última quarta (07). Nessa entrevista, a professora comenta o caso da aluna de pós-graduação da Universidade Estadual de Santa Catarina (UDESC), Ana Caroline Campagnolo, que move processo por danos morais contra sua ex-orientadora, a professora Marlene de Fáveri, que teria tentado prejudicá-la academicamente, segundo a autora do processo.

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Com fotos do portal Catarinas (por Dieini Andrade e Chris Mayer) e reprodução da TV Cultura: Marlene, Stella Maris, um protesto de colegas de Marlene em Santa Catarina e a mestranda Ana Caroline

Anexei uma prova fonográfica, e-mails e documentos como prova. Na prova fonográfica é possível ouvir a professora dizendo que se eu não concordo que “poder usar um vibrador” e “poder estar numa Universidade” são conquistas feministas, eu não deveria estar naquela Universidade. Marlene também diz que minhas convicções cristãs são inconsistentes e ridículas e que ela não gosta de gente ridícula, embora algumas pessoas – meus companheiros de fé, obviamente – gostem. Ana Caroline, que move a ação, em entrevista ao portal Catarinas.

Tudo isso mexe comigo, com minha história de vida, com a feminista que tem dentro de mim, me constrange publicamente. Me sinto muito prejudicada, injuriada, desqualificada como mulher, como professora. Sinto todas as mulheres desqualificadas também porque o feminismo é uma luta muito importante, que vem de muito tempo e que tem como alvo emancipar as mulheres e por fim a qualquer tipo de violência. Feminismo é uma prática política que tenta diminuir as dores e violências do mundo. Espero que isso termine, porque é muito cansativo. Estou deixando de fazer coisas muito importantes desde o início do processo como ler dissertações e participar de bancas. Marlene de Fáveri, também ao portal Catarinas.

por Luiz Carlos Azenha | Viomundo – 07/06/2017

Acadêmicos, alunos e integrantes da ANPUH, a Associação Nacional de História, estão mobilizados em torno do processo movido por uma mestranda de Santa Catarina, Ana Caroline Campagnolo, contra a orientadora Marlene de Fáveri, acusada de danos morais. Ana Caroline pede indenização de R$ 17.600 por “discriminação, intimidação, ameaça velada via e-mail, exposição discriminatória, humilhação em sala de aula e tentativa de prejudicar academicamente a autora”.

Além de manifestarem solidariedade à orientadora, os colegas se preocupam com a repercussão que uma decisão judicial possa ter nas salas-de-aula das universidades brasileiras, provocando autocensura, ameaçando a liberdade de expressão e prejudicando a liberdade de crítica que é essencial e justifica a própria existência da universidade.

Para tratar do caso, entrevistamos a professora Stella Maris Scatena Franco, professora do Departamento de História da Universidade de São Paulo.

Viomundo: Qual é a acusação?

A ex-orientanda de mestrado de Marlene de Fáveri a acusa por danos morais. A abordagem de gênero pressupõe, como todas as outras no âmbito acadêmico, uma perspectiva analítica crítica, que não vinha sendo explorada pela aluna, claramente associada a grupos de tendência conservadora (o que pode ser evidenciado na entrevista concedida por ela a um canal intitulado justamente Conexão Conservadora).

Até onde sei, esta situação, quando percebida pela professora, levou-a a solicitar ao seu Programa de Pós-Graduação a interrupção da orientação, visto que as pré-concepções da orientanda podiam comprometer seriamente os resultados da pesquisa. A orientação foi transferida e, ao fim, a pesquisadora foi reprovada pela banca que a avaliou.

Viomundo: Quem é a acusadora?

A acusadora chama-se Ana Caroline Campagnolo. Trata-se de uma estudante que cursava pós-graduação na Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC). Na entrevista mencionada acima, afirma-se como uma pessoa “conservadora e de direita” e fala do feminismo como “um grande engodo”.

É realmente difícil compreender as razões que levaram esta jovem a buscar a abordagem de gênero como embasamento para a sua investigação.

Viomundo: Quais são os argumentos da acusadora?

Os argumentos se aproximam aos utilizados pelos defensores do movimento Escola Sem Partido, de que os professores, sob o pretexto de realizarem uma leitura crítica da realidade, “doutrinam” os alunos. Por esta lógica, os docentes deveriam ministrar os conteúdos de forma “neutra”, para que as análises não entrem em confronto com as convicções pessoais (e religiosas, inclusive) dos alunos.

A situação é, no mínimo, irônica, pois aqueles que defendem a neutralidade são os que mais tem ligações com posturas preconcebidas, valorativas e fechadas. O pensamento crítico pressupõe questionamentos, reflexões e uma visão da história enquanto campo constituído por conflitos das mais diferentes ordens, inclusive de ideias.

Viomundo: Como os colegas da professora Marlene encaram essa denúncia?

Essa denúncia pode ser encarada de múltiplas formas: como uma postura “reacionária”, no sentido lato do termo, isto é, que reage a um movimento de expansão do ensino crítico, que vimos praticando com maior liberdade desde o processo de abertura democrática.

Curiosamente, este caso que envolve Marlene de Fáveri, é associado à abordagem da história das relações de gênero, que perturba os grupos tradicionalistas e religiosos, pois rompe com a ideia do essencialismo biológico, que pressupõe a determinação dos comportamentos e papeis sociais pela natureza, isto é, pelo próprio sexo. Esta questão é analisada por especialistas em reflexões teóricas bastante complexas e sofisticadas.

Tudo isso incomoda pessoas avessas a transformações, principalmente comportamentais, o que às vezes as leva a saídas “reativas”, de um lado, e “corretivas”, de outro, como nas campanhas que defendem a “cura gay”.

Combinado a essa percepção, também pode-se entender que há um interesse da aluna em se projetar publicamente, atraindo adesão de pessoas simpáticas às vertentes conservadoras.

Assim, a denúncia poderia ser encarada como uma atitude oportunista.

Finalmente, acredito que haja um receio quanto a uma possível vitória da aluna, pois isso estimularia a vigilância sobre os professores, fazendo generalizar e institucionalizar o que tem sido chamado de Lei da Mordaça.

Há muitos professores e professoras empenhados(as) na defesa da Marlene, pois sabem que este tipo de constrangimento pode levar à censura ainda maior em sala de aula, o que, em última instância, acabaria por ferir a liberdade de expressão e de ensino.

Esse tipo de relação comprometeria o processo de ensino-aprendizagem, lembrando, ademais, os contextos de autoritarismo político e de estado de exceção, que supúnhamos superados.

No momento atual vivemos um contexto político no qual as regras democráticas foram colocadas em xeque.

O controle do pensamento é parte importante desse mesmo processo. Nesse sentido, são muito significativos os ataques aos historiadores.

Uma história contestadora, que deflagra contradições (como a absoluta falta de neutralidade nas propostas do Escola Sem Partido, o mesmo que demanda a neutralidade no ensino), uma atitude que instiga o questionamento das verdades prontas e acabadas, que analisa os processos de autoritarismo nos diferentes momentos e reflete sobre suas consequências para a sociedade é, no mínimo, incômoda.

Não parece fortuito o fato desse governo defender o fim da obrigatoriedade da disciplina de História no Ensino Médio (o que afeta também o ensino no nível superior, sobretudo as licenciaturas em História, que formam os professores que depois vão atuar na rede básica).

Assim, pelo fato desse movimento propor o fim da autonomia dos docentes e espelhar o próprio cerceamento do exercício de cidadania por meio das restrições à democracia, os professores encaram esta ação como ilegítima, falha em fundamentos conceituais coerentes e perigosa do ponto de vista político.

No entanto, este é um processo que ao mesmo tempo uniu colegas das diferentes partes do Brasil, que se manifestaram nesta semana e, particularmente no dia 06, quando da audiência em que foram ouvidas as testemunhas de Marlene, para prestar solidariedade, para defender a liberdade de ensino e o reconhecimento de demandas colocadas pelos movimentos sociais, como o feminismo.

Viomundo: Quais as consequências que o caso poderá ter para ela em particular e para a comunidade acadêmica em geral?

Hoje já virou uma prática relativamente comum os professores serem sujeitos a gravações de suas aulas, por alunos que têm em mente levar a cabo ações judiciais. Os alunos são instigados a isso pelo Escola Sem Partido. Essa é uma prática que pode aumentar e isso causaria muitos problemas.

No caso do acirramento dessas tensões, alguns docentes, eventualmente, poderiam vir a se auto-censurar por temerem processos ou até mesmo demissões. Atualmente, os professores de ensinos Fundamental II e Médio, que passam por entrevistas em algumas escolas mais tradicionalistas, são questionados sobre suas posições político-ideológicas. Isso vem se tornando um critério para a contratação de professores em algumas escolas.

O silenciamento, a censura, trazem consequências irreparáveis para os próprios formandos. No entanto, neste ponto sou otimista.

Não acredito que liberdades e direitos conquistados a tão duras penas possam simplesmente desaparecer sem contestação. E é por isso que as mobilizações em torno de Marlene foram e são importantes. Para mostrar o quanto é vital nos unirmos.

Agora, para aquela que sofre este processo — a própria Marlene –, o custo pessoal é imenso. Tempo, dinheiro e muita energia dispendidos em torno de uma demanda destrutiva e cerceadora.

PS do Viomundo: O Portal Catarinas entrevistou tanto a professora Marlene quanto Ana Caroline. Leia aqui e aqui.

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Rafaela Silva, o feminismo, as cotas e a meritocracia

Acho importante repercutir por aqui no Hum Historiador, um texto com o qual me deparei e considero bastante instrutivo sobre a relação entre o feminismo, cotas e programas sociais com a conquista da medalha de ouro, ontem (08), pela judoca Rafaela Silva nos Jogos Olímpicos que vem ocorrendo no Rio de Janeiro.

O texto é de autoria de Hugo Fernandes-Ferreira, biólogo e doutorando em zoologia pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB), e o mesmo vem tendo grande repercussão através de seu perfil em uma rede social.

No texto, Fernandes-Ferreira responde a um meme que também vem circulando nas redes sociais e cujo objetivo principal é exaltar a meritocracia, afirmando que Rafaela Silva não teria necessitado nem do feminismo, nem de cotas, para atingir o resultado de ontem, que o mesmo veio exclusivamente por seu mérito próprio.

Abaixo o meme que vem circulando no Facebook, seguido pela íntegra do texto de Fernandes-Ferreira.

Rafaela Silva_Meritocracia

Vi esse meme algumas vezes na minha timeline (Hugo Fernandes-Ferreira) e acho importante elucidar algumas questões para evitar que esse tipo de chorume (não consigo definir de outra forma) se propague ainda mais.

Rafaela Silva precisou do feminismo e de cotas sim. Vou dizer em quais momentos.

1) Através do feminismo, mulheres puderam competir nos Jogos. Em 1900, seis mulheres feministas enfrentaram as regras olímpicas, obrigando a organização a criar um evento paralelo. Esse torneio paralelo foi levado até 1928. O Barão de Coubertim, criador das Olimpíadas Modernas, inclusive pediu demissão afirmando que a presença feminina era uma traição ao espírito olímpico. Ainda hoje, há muito a ser conquistado, como divergências nos valores de patrocínio.

2) Precisou do feminismo para entrar na Marinha. Com mulheres na corporação somente a partir da década de 80, apenas em 1996 foi aceita a promoção de oficiais mulheres, através de lutas feministas.

3) Precisou também de cotas. Ela foi, durante anos, beneficiária do Bolsa Atleta, programa do Ministério do Esporte que atende jovens promissores. O valor da bolsa, além do rendimento esportivo potencial do atleta, depende também de sua condição financeira, fornecendo valores maiores para aqueles promissores de baixa renda. Além disso, sua entrada na Marinha não se deu por meio tradicional e sim através de vagas fruto de uma parceria entre os Ministérios da Defesa e do Esporte. Ou seja, cotas.

4) Mas é claro que ela conquistou por mérito próprio. O fato de ela ter recebido bolsa, além dos benefícios históricos do feminismo, só ajudou para que ela pudesse estar em uma condição mais justa (ainda que esteja longe, muito longe do ideal) de competir com quem não enfrenta problemas de misoginia, pobreza e racismo. Mérito maior é ter vencido ainda em um patamar social muito inferior à maioria de suas concorrentes. Não há problema em você falar de meritocracia esportiva, desde que você entenda antes que ela só funciona isoladamente quando houver isonomia. De resto, ou você cita exceções como se fossem regras ou você solta chorumes como esse.

5) Enquanto você resolve soltar esse meme falando pela Rafaela, com esse tom conservador, é bom lembrar que a atleta é declaradamente de esquerda. Isso não faz dela melhor ou pior, mas significa que você, sem dúvida, está utilizando a imagem da atleta para propagar uma posição política contrária a dela, o que denota uma grande desonestidade intelectual.

É triste saber que, mesmo diante do choro de desabafo pelos atos racistas que ela sofreu, alguém ainda prefira ignorar isso e tirar um discurso conservador de onde não existe. É chorume… E todo chorume fede.

 


Hugo Fernandes-Ferreira é doutorando em zoologia pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB).


Para finalizar o post, gostaria apenas de chamar atenção que a compreensão do texto (e o principal argumento do autor) passa apenas pela necessidade do leitor estar familiarizado com a noção de OPORTUNIDADE.

O feminismo, bem como os diferentes programas sociais (como o bolsa atleta recebido por Rafaela), buscam garantir OPORTUNIDADES a indivíduos que, na sociedade em que vivemos, são alijados de participarem ou ocuparem plenamente espaços por conta de seu gênero, da cor de sua pele ou em razão de pertencerem a uma classe social considerada inadequada a um espaço específico. Assim, numa sociedade como a nossa, algumas pessoas pertencem a alguns lugares, enquanto outras não. É justamente por vivermos em uma sociedade tão desigual que concordo plenamente com Fernandes-Ferreira ao afirmar que pessoas como Rafaela Silva precisam, sim, do feminismo, das cotas (sociais e raciais) e de programas sociais, pois sem eles, elas jamais teriam as oportunidades de ocupar determinados espaços (como uma academia de judô ou ser uma oficial da marinha, por exemplo) e mostrarem todo o seu talento e brilhantismo.

Portanto, ao contrário do que aqueles que fizeram o meme pensam, o feminismo, as cotas e os programas sociais não tiram o mérito das pessoas que fazem uso de suas conquistas, pelo contrário, concedem uma rara janela de oportunidade para que essas pessoas possam mostrar seu mérito e talento em um mundo injusto e desigual que, de antemão, lhe negam essa oportunidade. Repito: o fato de Rafaela Silva ter usado conquistas do feminismo e ser beneficiária de programas sociais não desmerece, em nada, sua conquista nos tatames. O que fazem, na verdade, é explicitar a necessidade de aumentarmos, cada vez mais, as oportunidades a grupos que vivem à margem da sociedade. Por todo o talento que Rafaela Silva demonstrou ter, não só no judô, mas na vida, ao aproveitar tão bem as oportunidades que lhe foram garantidas, vejo razões mais do que suficientes para termos AINDA MAIS ORGULHO dessa mulher, e não o contrário, como pretendem os autores do meme e seus apoiadores!!!! Por isso, não me canso de parabenizar a Rafaela Silva!!! Que ela possa aproveitar muito esse momento de glória, que é todo dela!!!

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Seis formas de discutir gênero na sala de aula

da redação do Porvir | publicado originalmente em 04.abr.2014

Para professores que desejam trabalhar questões de gênero com os seus alunos em sala de aula, uma lista com dicas de conteúdos sobre tolerância, violência contra a mulher e desigualdades.

O resultado de uma pesquisa divulgada pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada) no dia 27 de março causou polêmica e indignação. O estudo então revelou que 65% dos brasileiros concordam com a afirmação de que “mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas.” No dia 4, depois de já ter causado inúmeras reações e discussões nas redes sociais, esse índice foi corrigido para 26%.

Entre as reações, a jornalista Nana Queiroz, moradora do Distrito Federal, criou um evento no Facebook que convocava mulheres a se fotografarem seminuas segurando um cartaz com a frase “eu não mereço ser estuprada.” O protesto virtual contou com a adesão de mais de 42 mil usuários, entre mulheres e homens que também decidiram abraçar a causa. No domingo (30/3), o tema foi um dos mais mencionados no Twitter. Até a presidente Dilma Rousseff se manifestou pela rede social em apoio a jornalista Nana Queiroz e a todas as mulheres ameaçadas ou vítimas de violência.

Crédito: Trimbaldi /Fotolia.com.

Para professores que desejam aproveitar o momento para trabalhar questões de gênero com os seus alunos em sala de aula, o Porvir preparou uma lista com 6 dicas de conteúdos sobre tolerância, violência contra a mulher e desigualdades. As dicas foram pesquisadas na plataforma Escola Digital e em recentes sugestões ligadas ao tema. Confira a lista para o ensino fundamental e médio:

1 – Panorama geral sobre nova mulher brasileira

Baseado em dados do censo 2010, realizado pelo IBGE, o infográfico apresenta aspectos e perfil da nova mulher brasileira. Com navegação interativa pelas ilustrações, o usuário pode acessar dados sobre o espaço da mulher no mercado de trabalho, as disparidades de salários entre gêneros e a presença feminina no ensino superior.

2 – Narradores de Javé – Questão de Gênero

A partir de um trecho do filme Narradores de Javé, obra brasileira dirigida por Eliane Caffé, é possível trabalhar as discussões sobre minorias e preconceito de gênero. O filme narra acontecimentos da pequena cidade de Javé, que seria submersa pelas águas de uma represa. No decorrer da obra são apresentadas questões que mostram o esquecimento das mulheres na história da cidade, que foi fundada pela heroína Maria Dima.

3 – Lei Maria da Penha em Cordel

De forma divertida e bem humorada, o vídeo apresenta a legislação sobre a violência contra a mulher em forma de cordel. O vídeo está disponível no YouTube e possui duração de 5:56. Ele faz parte do DVD Mulher de Lei, do cantor e educador cearense Tião Simpatia. A linguagem é ilustrativa e simples de entender.

4 – Women in the 19th Century: Crash Course US History #16

Se o professor desejar estabelecer um paralelo sobre as discussões sobre gênero nos EUA, o vídeo Women in the 19th Century, disponibilizado no YouTube, pode ser uma boa ferramenta. Ele apresenta como as questões de igualdade de direitos e sufrágio universal foram abordadas pelas mulheres do século XIX, nos EUA.

Para dar base as discussões do ensino superior, também selecionamos duas opções:

5 – Mooc colaborativo online sobre feminismo

O mooc Diálogos sobre Feminismo e Tecnologia conta com a colaboração de participantes para destacar o protagonismo feminino. Na plataforma, os próprios estudantes conseguem escrever e compartilhar informações adicionais sobre o tema.

6 – Colunas sobre Sexismo

A coluna publicada on-line por Kelly J. Baker, Ph.D. em religião da Universidade Estadual da Flórida, se propõe a discutir questões sobre gênero, o papel da mulher no século 21 e desigualdades. Os textos podem servir de base para análises e discussões em sala de aula.

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Quem tem medo do feminismo?

Estava lendo as novidades na Revista Fórum e encontrei um post que foi escrito originalmente para o Blogueiras Feministas, por Ticiane Figueiredo, que merece ser repercutido por aqui por trazer algumas informações básicas sobre “O que é o feminismo” e “O que é ser feminista”, dentre outras questões e abordagens que podem interessar bastante os leitores do Hum Historiador.

QUEM TEM MEDO DO FEMINISMO

por Ticiane Figueiredo | Blogueiras Feministas – 18/09/2013

De todos os tipos de intolerâncias existentes em nossa sociedade, a que se impõe contra o Movimento Feminista é uma das que mais me incomodam. Não porque sou feminista ou porque não aceito a opinião alheia, mas pelo simples fato de tal relutância estar embasada em puro preconceito e alienação.

Então quer dizer agora que todas as mulheres são obrigadas a serem feministas? Não, não são.

Ainda que eu cultive esperanças de que todas as pessoas tenham a consciência de que o Feminismo é necessário para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária e, que acima de tudo é preciso militar, isso não quer dizer que todas as mulheres são obrigadas a serem feministas. Isto porque, para mim, as pessoas devem ser livres para serem o que quiserem, como quiserem e quando quiserem.

O problema é que sendo do gênero feminino, a sua liberdade é limitada e suprimida, seja pelos valores culturais machistas que “justificam” o estupro, o abuso, as cantadas indecentes, a passada de mão no ônibus ou metrô lotado; seja pela rua escura que te amedronta e te inibe de ocupar o espaço público, pelo(a) chefe que sabe que você precisa do emprego e te assedia moral/sexualmente ou pela violência doméstica. A sua liberdade é sufocada simplesmente pelo fato de você pertencer ao gênero feminino, ao “sexo frágil”, de ser mãe solteira, de não arrumar um marido, de se vestir como uma biscate, de “não se dar o devido respeito”, de estar acima do peso, de ter celulite…

Por estes e tantos outros motivos é que eu acho que sem o Feminismo você não é livre, ainda que não concorde comigo.

Vejo com freqüência nas redes sociais, e fora delas também, as pessoas atacando o Feminismo das mais diversas formas. Como se nós, bruxas pagãs, quiséssemos destruir algo lindo que a sociedade patriarcal construiu com todo o amor e carinho, como se “a moral e os bons costumes” fossem emanadas da vontade geral e consciente e não de uma minoria que detém o poder e o domínio.

Segundo o livro ‘Breve história do Feminismo no Brasil’(1):

“E são as feministas que cobram a grande dívida social e econômica que em o patriarcado perante a humanidade, em vista das injustiças milenares cometidas sob a sua autoridade. A maior delas é “a imposição do ‘grande silêncio’ histórico e cultural sobre as mulheres (heterossexuais e homossexuais); os papéis estereotipados que mantêm as mulheres à distância da ciência, da tecnologia e dos outros estudos ‘masculinos’, ligações sócio-profissionais masculinas que excluem as mulheres”. Trecho da intervenção feita por Miriam Botassi em 1988, no Seminário do NEIM (Núcleo de Estudos interdisciplinares sobre a Mulher).

Para mim, a melhor forma de combater a tal alienação é a informação. Contudo sei que este é um processo lento de desconstrução de “valores”, mas mesmo assim é preciso tentar e é por isso que estamos aqui.

Foto: Facebook/Juliane Alves/Marcha das Vadias DF

O que é o Feminismo?

Segundo Maria Amélia de Almeida Telles (1):

“O feminismo é um filosofia universal que considera a existência de uma opressão específica a todas as mulheres. Essa opressão se manifesta tanto no nível das estruturas como das superestruturas (ideologia, cultura e política). Assume formas diversas conforme as classes e camadas sociais, nos diferentes grupos étnicos e culturas.

Em seu significado mais amplo, o feminismo é um movimento político. Questiona as relações de poder, a opressão e a exploração de grupos de pessoas sobre as outras. Contrapõe-se radicalmente ao poder patriarcal. Propõe uma transformação social, econômica, política e ideológica da sociedade.”

Apesar das idéias defendidas pelo Feminismo estarem muito claras, ainda há pessoas que pensam que nós queremos nos sobrepor aos homens e dominar o mundo, além de matar criancinhas, claro.

O Feminismo representa sim um meio utilizado para se quebrar determinados paradigmas sociais que se mostram opressores, mas sua finalidade não é a sobreposição hierárquica de um gênero ao outro, mas sim a igualdade entre ambos. Por isso que ele se mostra como:

“Um conjunto de idéias e práticas radicais que tenham o poder de subverter, mudar, transformar as ideias e práticas patriarcais que vivemos. Se entendemos que o sistema se organiza por um conjunto de instituições sociais, econômicas, jurídicas e culturais que atuam para preservar o poder do patriarcado – seja no capitalismo ou no socialismo-, temos que ir ganhando a noção de como nos relacionar com as instituições, mantendo nossa liberdade de pensar e exprimir idéias radicais e formas autônomas de organização”. Trecho da intervenção feita por Miriam Botassi em 1988, no Seminário do NEIM (Núcleo de Estudos interdisciplinares sobre a Mulher) (1).

Nós queremos uma sociedade mais justa e mais igualitária para todas as pessoas, sem distinção, mas para alcançar tal objetivo é preciso que conquistemos muitos direitos que foram negados a nós, mulheres, no decorrer da história, para daí então alcançarmos uma equidade material.

O Feminismo é para todas?

We Can Do ItO Feminismo é algo amplo e como tal, abrange dentro de si demandas das mais diversas e específicas. Afinal, não podemos falar que lutamos contra a opressão direcionada às mulheres se, em contrapartida, não abrirmos espaço para falar de todas elas e, é dentro dessa ótica que surgem algumas “divisões” no Feminismo para que se enxergue a questão das mulheres negras, trans*, lésbicas etc.

Ocorre que na prática há uma forte tendência em direcionar a militância. Isso porque cada pessoa tem mais facilidade em enxergar a opressão machista e patriarcal dentro de sua própria realidade. Porém, o grande problema é que as mulheres também são desiguais entre si, uma vez em que algumas possuem mais privilégios que outras. Não enxergar essas diferenças ou, na pior hipótese, negar veemente a sua existência, pode ser uma forma de opressão.

No meu ponto de vista, não existe Feminismo certo ou errado. O Feminismo é uma “filosofia universal” e não podemos creditar a ele ações pessoais dessa/desse ou daquela/daquele militante. Não é culpa do Movimento Feminista que aquela pessoa não enxergue seus privilégios ou que ela, individualmente, seja contra determinada questão. É muito triste sim, ver que há pessoas assim dentro do movimento, mas estamos lutando para que todas as pessoas retirem seus cabrestos. A militância é um processo contínuo de aprendizagem. Contudo,  vamos sempre denunciar a opressão seja ela vinda de fora ou de dentro do movimento porque, aproveitando uma palavra de ordem utilizada por uma militante: ou o Feminismo é para todas (os) ou não será!

O que é ser feminista?

Muitas pessoas, ainda que saibam de cor a pauta feminista ou tenham uma ideia de qual seja, sentem insegurança em se assumirem como tal. Seja por motivos internos, por medo de rótulos sociais ou ainda por não se sentirem representadas. A estas pessoas, acho interessante compartilhar um pensamento da grande intelectual Heleieth Saffioti (2):

“Na verdade, eu sempre relutei em me dizer feminista no Brasil. No passado, este termo tinha uma carga ideológica muito grande e ainda apresenta uma carga razoável. Eu gosto de dizer: eu sou feminista mas meu feminismo é este (…) porque eu tenho muito medo que tomem o meu feminismo através dessa adulteração que se fez do termo que interessa muito a ditadura, de se entender que esta é uma luta das mulheres contra os homens, e eu não quero de maneira alguma ser interpretada desta forma. Tenho muito respeito pelos homens. Acho que eles também são vítimas dessa sociedade, embora nós sejamos mais vítimas do que eles.”

Não há uma definição do que necessariamente é ser feminista. Muitas pessoas são, mas não se assumem. Muitas pessoas assumem, mas não são. O importante, na prática, é saber o que o Feminismo como um todo busca e, perceber que no fundo é o que você também deseja. Afinal, não acho que ninguém goste de viver uma sociedade que oprime e mata as mulheres.

Por isso que sempre me pergunto: quem, no fundo, tem medo do Feminismo?

Referências:

(1) TELES, Maria Amélia de Almeida. Breve história do feminismo no Brasil. São Paulo: Brasiliense, 1993.

(2) Entrevista ao jornal Mulherio, n.º 6, março e abril de 1982.

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PS: Deixo todo meu apoio às feministas (e ao feminismo), e deixo aqui uma foto que enviei ao pessoal do “Quem precisa do feminismo?”, com minha mensagem singela de força.

Eu preciso do feminismo

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Vivemos em uma sociedade doente que odeia conviver com suas crianças

Recentemente, eu e minha namorada decidimos ir até uma loja em um Shopping Center de São Paulo comprar um DVD para passarmos a noite de sábado assistindo a um bom filme, comendo pipoca e tomando vinho quando nos deparamos com um estabelecimento, ao lado de uma livraria, que parecia ser um Salão de Belezas para crianças. Neste local, uma menina que aparentava ter aproximadamente 3 ou 4 anos fazia as mãos em uma manicure, enquanto outra garotinha, com algo em torno de 6 anos, cortava os cabelos, fazia maquiagem e punha algum produto químico nas madeixas. Não vimos a presença dos pais dessas crianças no dito estabelecimento, o que nos fez julgar que, enquanto pais e mães faziam suas compras no shopping, manicures, cabeleileiros e animadores entretiam as crianças. No fim, após passarem algumas horas no shopping, os pais passavam no caixa e pagavam a conta pela comodidade de não terem que cuidar dos próprios filhos.

Uma das críticas que faço aqui, é voltada ao serviço dos “animadores de crianças” como símbolo de uma sociedade que não quer mais conviver com suas crianças. Eu não tenho filhos, apesar disso convivo com crianças devido a carreira que escolhi seguir como educador. Fiz estágio em escolas públicas e dei aulas de reforços para alunos da classe média-alta de São Paulo (Santo Américo, Pio XII, Miguel de Cervantes, Porto Seguro, etc. etc.). Além disso, tenho sobrinho e sobrinhas e vivo com uma pessoa que há anos dá aulas em escolas públicas, cursinhos e escolas particulares. Por isso acredito que ambos temos alguma propriedade ou conhecimento de causa quando falamos que esta sociedade não quer criar os próprios filhos. Pior que isso, é uma sociedade que não quer sequer conviver com eles.

A cada ano, é perceptível a presença cada vez maior de gente especializada em serviços para cuidar de crianças enquanto os pais trabalham ou fazem outras coisas. Quando dava aulas de reforço para os meninos da classe média-alta, sempre me surpreendia ao ver crianças de 10 a 14 anos com agendas repletas de segunda a sábado. Além da escola, tinham que fazer curso de um ou dois idiomas, aula de um ou dois instrumentos musicais, natação, balé, academia, etc. etc. Essas crianças diziam para mim que iam mal na escola, pois não tinham tempo de ler suas apostilas de História. O único horário que tinham disponível em suas agendas, e mesmo assim, nem todos os dias, era entre as 19h e as 22h, quando não queriam fazer nada, apenas ver TV ou jogar videogame. O que é perfeitamente compreensível.

Crianças que passam mais tempo com babás, seguranças, motoristas, guarda-costas, empregadas domésticas, professores de todos os tipos, personal trainers, e uma série de outros profissionais especializados do que com seus próprios pais. Durante a semana, no fim do dia, nos parcos momentos em que teriam para desfrutar da companhia dos pais, estes ainda estão trabalhando em seus empregos, ou levam serviço pra casa e se trancam em seus escritórios, enquanto os filhos, por sua vez, se trancam em seus quartos (isso quando os pais simplesmente não preferem ficar dormindo ou descansando em seus quartos). Dentro de casa, é comum que pais e filhos não convivam em um mesmo ambiente. Mal fazem uma refeição juntos. Um símbolo emblemático disso é que, em muitas casas, já é bastante comum que as salas de estar não tenham mais uma televisão. Estes aparelhos estão nos respectivos quartos das crianças e do casal.

Já no fim de semana, quando pais e filhos acabam saindo juntos e indo aos shoppings, os pais deixam seus filhos em Lan Houses ou nos salões de estética para crianças, como aquele que critiquei no início deste post. Segundo os depoimentos de alguns pais, é necessário que eles “dediquem algum tempo a si mesmos” e que possam desfrutar de “algumas horas de paz” no fim de semana. Ou seja, o convívio com as crianças não é visto como “um momento de paz”.

Isso fica ainda mais evidente quando chegamos na época das férias escolares, o verdadeiro terror de muitos pais. É sempre aquele grande problema descobrir o que fazer com os filhos que vão passar mais tempo em casa. É comum vermos nos telejornais matérias dando opções aos pais de onde levar os filhos durante as férias. Programas educativos, museus, clubes, exposições, atividades mil que ocupem o tempo das crianças e as tirem de dentro de casa, mesmo nos fim de semana, enquanto os pais podem estar ausentes realizando suas atividades cotidianas ou, simplesmente, tendo alguns momentos de paz. Vejam alguns exemplos abaixo:

Todo este cenário pode ser observado mesmo por quem não tem filhos ou não seja educador. Basta observar a sociedade em que vivemos. Ao deparar-me com o salão de beleza para meninas de 3 a 10 anos, não pude deixar de imaginá-lo como símbolo mais que apropriado de uma sociedade que prefere pagar, e pagar caro, para que alguém passe tempo com seus filhos. Como professor e educador do filho alheio, convivo com isso cotidianamente. Há mesmo uma queixa constante entre diretores, coordenadores pedagógicos e de todo o professorado à respeito dos pais que não conseguem passar os valores básicos do convívio social para suas crianças, acreditando que isso é dever das escolas.

Além dessa, há outra crítica explícita no meu status, que é a sexualização precoce das meninas. Cada vez mais cedo vemos crianças de 3, 4 ou 5 anos se fantasiando de mulheres. Linhas de maquiagens sendo desenvolvida por empresas de cosméticos para atenderem crianças com menos de dez anos. Crianças nessa faixa etária tingindo cabelos, falando de cirurgias plásticas, desejando ter o corpo mais assim ou mais assado, praticando o bullying com “gordinhas” ou “feinhas” que não se adaptam ao modelo de beleza que constantemente veem na televisão ou em suas próprias bonecas. Ou seja, uma sociedade na qual mulheres menores de idade são objetificadas até mesmo com mais frequência do que as adultas.

Segundo notícia da Reuters divulgada pelo Estado de S. Paulo, entidade estadunidense alerta para sexualização das meninas na TV. Na reportagem, é tocante o depoimento da ex-modelo Nicole Clark, que fez um documentário em 2008 intitulado “Cover Girl Culture: Awakening the Media Generation”.

“Nossas meninas estão sendo objetificadas sexualmente a partir dos 6 anos”, disse Clar, que está grávida e chorou diversas vezes durante a apresentação. “Como que as coisas ficaram tão loucas?”.

“Executivos do mundo televisivo estão roubando a inocência das crianças — se alimentando delas — disse, e suas vítimas não são fortes o suficiente para rejeitar as mensagens destrutivas.”

Nos Estados Unidos, recentemente, a Walmart anunciou uma linha de cosméticos dirigida a crianças de 8 a 12 anos. Faixa etária que a gigante dos supermercados chama de “Tween”, e que movimenta cerca de 24 milhões de dólares por ano em produtos de beleza. Uma sexóloga e escritora consultada pela rede de TV ABC, dos Estados Unidos, lembrou sobre o estímulo precoce à vaidade:

“Não há problema em se maquiar para imitar as mães”, declarou Logan Levkoff . “Mas estamos criando uma geração que mede seu valor apenas pela aparência”.

Abaixo destaco algumas reportagens que tratam sobre esse assunto:

Além das reportagens, recomendo muito o documentário intitulado CRIANÇA A ALMA DO NEGÓCIO, dirigido pela cineasta Estela Renner e produzido pelo Instituto Alana, que discute a superexposição de crianças a mensagens publicitárias que são, cada vez maia, dirigidas especificamente a elas (mesmo para produtos como carro ou geladeiras). Abaixo disponibilizo uma versão editada de dez minutos (o documentário tem por volta de 47 minutos).

Embora o documentário todo seja interesossantíssimo, especialmente para quem tem filhos, para a discussão que estou fazendo recomendo que adiantem o filme até 0s 5:08 min do video no YouTube. Ali é feita a discussão sobre o uso de maquiagem e os procedimentos de estéticas com crianças já a partir dos 3 anos de idade.

Enfim, ao deparar-me com o tal salão de belezas para crianças, não pude deixar de imaginá-lo como símbolo de uma sociedade doente que odeia conviver e passar tempo com suas crianças. A pergunta final que ainda bate em minha cabeça é: quando foi que passamos a odiar nossas crianças? Continuaremos a deixá-las de lado ao invés de integrá-las de fato em nossa sociedade?

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Total apoio ao Coletivo Feminista Marias Baderna

Desde a criação deste blog, tenho buscado me posicionar sempre contra o machismo, seja aquele existente dentro de cada um de nós, seja o existente na sociedade. Não por acaso, o segundo post publicado por aqui foi intitulado O MACHISTA DENTRO DE NÓS (06/12/2011) e, logo na sequência, retornei ao assunto com um post para divulgar o documentário italiano O CORPO DAS MULHERES (19/12/2011). Além disso, algum tempo depois fiz o post sobre O DIA INTERNACIONAL DA MULHER (08/03/2012) e mantenho um link permanente para o Escreva Lola Escreva, blog da professora Lola Aronovich.

Depois de muito tempo sem voltar ao assunto, ontem, enquanto navegava nas redes sociais, deparei-me com uma nota de repúdio divulgada pelo Coletivo Feminista Marias Baderna da Faculdade de Letras da USP, sobre publicações machistas de um estudante de engenharia da POLI-USP, chamado José Oswaldo.

Como não poderia deixar de ser, tão logo terminei de ler a nota dei meu total apoio ao Coletivo e enviei uma mensagem solicitando autorização para divulgá-la por aqui no HH. O grupo foi super solicito e prontamente autorizou a divulgação da nota que, sem mais delongas, reproduzo abaixo.

Nota de repúdio do Coletivo Feminista Marias baderna da Letras-USP sobre as publicações machistas do estudante José Oswaldo.

“Mas eu não fui machista!”

Quem determina a opressão é o oprimido.

Segundo o dicionário Michaelis, machismo é “um comportamento de quem não admite a igualdade de direitos para o homem e a mulher”. No campo político, definir o machismo exige mais complexidade. Para nós, o machismo é uma forma de opressão e exploração e chamamos de opressão toda conduta ou ação utilizada para beneficiar um determinado grupo em relação a outro. A opressão à mulher se expressa de várias formas: na piada que ridiculariza as mulheres por sua condição de mulher: “dirige mal, só podia mesmo ser mulher”; na diferença salarial entre homens e mulheres: hoje, em nosso país, uma mulher ganha até 30% menos que um homem; na agressão física, verbal ou psicológica: no Brasil, a cada dois minutos, cinco mulheres são agredidas.

Infelizmente, a USP não está imune dessa sociedade machista, por isso seguimos vendo dentro da universidade casos e mais casos de machismo, o mais recente foi aquele com qual nos deparamos na madrugada de quarta-feira, 06 de junho. O politécnico José Oswaldo, publicou uma montagem em sua página do Facebook com duas fotos: uma foto nossa, de mulheres integrantes do Coletivo Feminista da Letras, Marias Baderna, e outra com duas mulheres, conhecidas como “As coelhinhas da Playboy” e ele. A frase da montagem é “Ei, coletivo feminista FFLCH-USP, gostei de vocês. Mas prefiro as minhas”. Vimos a público, por meio desta nota, manifestar nosso repúdio a essa ação machista que expõe mulheres do coletivo,  veiculando sua imagem com uma intenção claramente provocativa.

Para limpar terreno, não estamos falando de um estudante que desconhece as mulheres da foto, que desconhece o terreno onde pisa. José Oswaldo é um integrante reconhecido de um grupo de estudantes conservador da USP que, há algum tempo, atua em unissom com a reitoria da universidade. Sua ação machista não foi tão inconsciente assim, sequer foi apenas uma ação individual, já que o machismo se apoia num conjunto falsas ideias para se sustentar. Sabemos que Zé Oswaldo não está sozinho e que muito outros compartilham de seus ideais, muito outros acharam espirituoso da parte dele tamanha sagacidade na montagem da foto.

Não bastasse a foto, o estudante, publica um texto, depois que muitas mulheres se manifestaram, indignadas. No texto ele afirma: “Ao fazer esse banner no Facebook que faz uma analogia as feministas da FFLCH-USP e entre as coelhinhas da Playboy, a minha intenção era fazer uma crítica ao atual movimento feminista, que só valoriza e leva em consideração um estilo de mulher, a teoricamente “consciente”, excluindo e menosprezando outros modelos de comportamento existentes.”. Em primeiro lugar, quem disse ao José Oswaldo que as “coelhinhas da playboy” não são, teoricamente, conscientes? Foi a ideologia machista que ensinou isso a ele. Ideologia que objetifica as mulheres, que nos separa em grupos; as conscientes, com um modelo comportamental e as, belas, que têm outro. Quem, senão os machistas, separam as mulheres segundo seu comportamento social? Se o estudante defende que foi alguma feminista que disse isso, que nos mostre onde! Certamente não ira encontrar – o feminismo é para todas as mulheres, não somente algumas. Lutamos pela libertação de todas, independente do estereotipo que nos seja imposto.

“Do rio, que tudo arrasta, se diz violento, porém ninguém diz violentas as margens que o comprimem” (Brecht).

No mesmo texto, o politécnico afirma que sua intenção foi criticar o modelo “autoritário” com o qual, nós, feministas, tratamos os machistas. Vejamos que é alvo de opressão constante, dentro da universidade: leilão de calouras. “Miss bixete”. Simulação de sexo oral nos trotes. Cartazes de festas com mulheres em posições eróticas, como se fossem parte do cardápio, junto com a cerveja, os destilados etc. Expulsão da moradia estudantil e/ou perda de bolsas em caso de gravidez. Ausência de creches e um longo etc. Quem são as vitimas dessas situações? Mulheres. Quem, em geral, promove essas situações? Homens. E por que eles acham que podem fazer isso com as mulheres? Porque o machismo ensina. O movimento feminista, por lutar contra tudo isso, por lutar para que homens e mulheres sejam iguais, é considerado autoritário.

No fim de seu texto, José Oswaldo reivindica a liberdade de expressão como direito conquistado a duras penas. A luta hoje na universidade de São Paulo, é uma luta pela liberdade de expressão, pois aqueles que se expressam contra a reitoria de Rodas são calados com processos, intimações e até prisões. As feministas da USP estão, diferentemente de José Oswaldo, ao lado dessa luta, luta pelo fim dos processos contra estudantes, pela universidade mais aberta à população e por mais qualidade de ensino e, é por lutar por isso que muitas de nós somos vitimas de retaliação. No entanto, se o que o estudante nos pede é liberdade para ser machista, de nossa parte, não terá! O machismo, o racismo e lesbofobia/homofobia não têm espaço na universidade que todas nós lutamos para construir.

Por isso, exigimos a retirada imediata da foto da página do estudante, que sequer tinha autorização das mulheres expostas para publicá-la, além disso, exigimos retratação pública, e não um texto cheio de justificativas e teorizações sobre como a publicação não é machista. Não cabe ao opressor essa decisão. As mulheres disseram categoricamente: é machismo. Que a resposta seja um constrangido pedido de desculpa e reconhecimento do erro.

Nenhuma atitude machista ficará sem resposta na USP!

Assinam esta nota:

  • Coletivo Feminista da Letras Marias Baderna
  • Frente Feminista da USP
  • DCE livre da USP
  • CAELL
  • CEUPES
  • CALC
  • Amor CRUSP
  • ANEL
  • Mulheres em Luta
  • Juntas!
  • Marcha Mundial das Mulheres
  • CAER
  • CEFISMA
  • CEGE
  • CAM
  • Coletivo Feminista Dandara
  • Coletivo Avante

Deixo uma vez mais registrado meu total apoio ao Coletivo Feminista Marias Baderna e, também, este espaço aberto para novas divulgações na luta contra o machismo, pois acredito firmemente como elas que NENHUMA ATITUDE MACHISTA DEVE FICAR SEM RESPOSTA NA USP OU EM QUALQUER LUGAR.

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