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Desembarque no porto do Inferno

Já ouviu falar de Lúcifer? Que veio do inferno, com moral, um dia!
No Carandiru, não, ele é só mais um, comendo rango azedo com pneumonia!

Racionais MC’s em Diário de um Detento

Não, amigos, não é necessário que se assustem, este foi apenas o título que dei a um texto despretensioso, em forma de conto, que preparei quando soube do falecimento do Coronel Ubiratan Guimarães, aos 09 de setembro de 2006.

Para aqueles que não se recordam, o Coronel Ubiratan foi o responsável pela invasão da Polícia Militar do Estado de São Paulo ao antigo Complexo Penitenciário do Carandiru, em 1992, na qual, segundo os números oficiais, 111 presidiários foram executados covardemente pela Polícia. Acusado de homicídio, foi julgado e condenado a 632 anos de prisão, em 2001, mas no ano seguinte os paulistanos demonstraram sua tradição histórica de heroicizar facínoras e o elegeram Deputado Estadual, o que acabou sendo fundamental para que Bira acabasse sendo absolvido em foro especial, em 2006.

Não durou muito. Por volta das 22h30 do dia 10 de setembro de 2006, foi encontrado morto por um assessor parlamentar, com um tiro, dentro de seu apartamento nos Jardins.


À GUISA DE EXPLICAÇÃO

Aos que me conhecem, é desnecessário dizer que não acredito no inferno ou no Diabo, portanto não acredito que os 111 detentos mortos foram condenados ao Inferno (mesmo porque o inferno era o Carandiru). A ideia do conto abaixo foi muito mais um desabafo e o desejo de que, ao menos em outro mundo imaginado, esse crápula filho da puta fosse punido e atormentado eternamente por ter comandado uma execução em massa, que o conservadorismo paulistano insiste em louvar, transformando vilões em heróis. Estão aí Anhangüera, Fernão Dias, Raposo Tavares, Borba Gato e Castello Branco que não me deixam mentir. Não me surpreenderia nada se alguém me dissesse que o nome desse psicopata já está batizando uma estrada, rua, praça, viaduto ou ponte nessa cidade.


DESEMBARQUE NO PORTO DO INFERNO
(Rogério Beier – Setembro/2006)

Ao desembarcar de sua barca no inferno, Bira percebeu que o Diabo tinha preparado uma baita recepção para ele: um belo tapete vermelho, as chamas eternas ao fundo emoldurando o momento e uma audiência composta de 111 almas perdidas que, de pé, organizadas em uma espécie de fila, apenas aguardavam com sorrisos maldosos nos cantos dos lábios, qualquer sinal de Lu pela oportunidade da tardia vingança que tanto ansiavam.

Bira caminhou vacilante em direção ao Diabo e, reconhecendo alguns dos rostos que lhe encaravam com os olhos fixos e brilhantes, finalmente entendeu o que estava prestes a lhe acontecer, já temendo por seu destino final.

Lúcifer, velho conhecedor da alma humana, foi buscar Bira todo satisfeito. Passando-lhe a mão pelos ombros, trouxe-o mais para perto de si e disse-lhe num sussurro tenebroso:

– Venha Ubiratan! Não há como fugir daqui, se é nisso que você está pensando agora. Sua chance de se arrepender expirou no momento de sua morte e agora você é meu convidado de honra nesse dia tão especial. Sua presença aqui é mais do que ansiada e, se lhe fiz esta recepção especial, foi por que cada minuto em que esteve na Terra desde que me mandou estes 111, era uma tortura infernal para eles, que tanto esperavam por este reencontro. No fim, sinto uma certa tristeza por sua morte, já que terei que encontrar outras formas de torturá-los daqui por diante, mas antes…

– Enquanto Lúcifer falava, Bira percebeu os olhares maliciosos daqueles que aguardavam um mínimo sinal do Diabo, que por sua vez, se deliciava com aquela situação.

Naquele mesmo instante, um dos 111 danados se aproximou de Bira e Lúcifer, interrompendo-os:

– E aí mano Lú, a bandidage ali tá querendo saber se nóis já pode começar os tormento do coronel. Você prometeu! Você prometeu! Tamo só pela ordem, mano.

Lúcifer olhou para Bira, um tanto chateado por ter sido interrompido, mas já satisfeito com o que estava por vir e acabou respondendo a pergunta do ex-detento, dando sua gargalhada aterrorizante:

– Pois é, Bira. Você conseguiu se livrar de sua pena na Terra, mas aqui quem manda sou eu. Nada de advogados corruptos, nada de juízes comprados, apenas eu e seus 111 colegas por toda a eternidade. Hahahahahahahaha.


Pra finalizar com chave de ouro, segue o clipe de DIÁRIO DE UM DETENTO, dos Racionais MC’s, inspirado no livro homônimo, de Jocenir, que conta como sobreviveu à mais uma chacina executada pelo Estado.

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Capistrano de Abreu e seus Capítulos de História Colonial

No começo do mês de abril, o Hum Historiador decidiu homenagear o grande historiador brasileiro Capistrano de Abreu e, até o presente momento, não tinha lhe dedicado um post que desse ao leitor algo mais sobre sua vida e obra.

Lembro-me de, no primeiro ano da faculdade, ter produzido uma resenha sobre os Capítulos de História Colonial na disciplina de Metodologia de História e é justamente ele que vou compartilhar com vocês. Peço que sejam bonzinhos e considerem o fato de o texto ter sido produzido ainda no primeiro ano e, justamente por isso, talvez não estar tão bom quanto poderia se eu o escrevesse hoje. Contudo, a ideia de divulgá-lo da forma como foi feito ainda no primeiro ano, é a de mostrar uma produção de quem ainda estava dando os primeiros passos na formação do curso de História.

Como a resenha é bem longa, abaixo compartilhei apenas alguns trechos selecionados dela. A íntegra está disponível para download ao final do post, junto com um link para download da obra completa, disponível no site domínio público.


ALGUNS DADOS BIOGRÁFICOS

Nascido em 1853, no sítio de Colominhuba, Maranguape, então província do Ceará, João Capistrano de Abreu era membro de uma família com uma pequena propriedade de terras, havia nascido no que Gilberto Freyre viria a chamar de “Casa Grande”, como bem lembra o excelente trabalho de José Carlos Reis: “Casa Grande modesta, mas bem abastecida” (REIS, 2000, p. 85).

Sua alfabetização e primeiros estudos se deram no próprio sítio em que nascera. Posteriormente, foi enviado à capital da província onde estudou em colégios pobres de Fortaleza, além do seminário. Dali foi à Pernambuco, onde ficou dois anos financiados pelo pai se preparando para ingressar na Faculdade de Direito do Recife. Porém, estudante nada afeito a exames, ainda segundo a biografia de Reis, fracassara miseravelmente em suas tentativas de ingresso e jamais chegou a obter o diploma de um curso superior. Dos dezoito aos vinte anos de idade, viveu no sítio de sua família, escrevendo artigos para os jornais de Fortaleza. Todavia lhe perseguia o desejo de sair da casa do pai. Reis resume este sentimento em uma única frase: “precisava de um emprego e um salário, não podia mais depender do pai sem trabalhar no sítio”. (REIS, 2000, p. 86).

Foi então que, em 1875, aos vinte e um anos de idade, deixa pra trás a vida de pequeno proprietário de terra no sertão cearense, optando por iniciar nova vida com recursos próprios no Rio de Janeiro. Chega à então capital do Império com uma carta de recomendação do amigo José de Alencar e logo encontra emprego na modesta livraria Garnier. Pouco depois, começa a lecionar inglês e francês no Colégio Aquino. Trabalhou escrevendo artigos de crítica literária e história para a Gazeta de Notícias. Porém, foi no ano de 1879 que Capistrano entrou definitivamente no rol dos historiadores. Neste ano, passou no concurso para trabalhar na Biblioteca Nacional e, segundo Francisco Iglesias, esta sua passagem pela principal biblioteca do país foi fundamental para o desenvolvimento de sua carreira, sem a qual “ele jamais teria realizado o quanto realizou”. (IGLESIAS, 2000, p. 118). Ainda segundo este autor, “na Biblioteca Nacional, Capistrano passa a lidar com livros raros, a ler o que só aí se encontra, a lidar com documentos, aprendendo a lê-los e a interpretá-los convenientemente”.

Em 1883, Capistrano se inscreve e é aprovado em outro concurso público. Agora, para a cadeira de professor de corografia e história do Brasil do Imperial Colégio D. Pedro II, em substituição a Gonçalves Dias. Cadeira que só viria a desocupar em 1899, em razão desta ter sido extinta e absorvida pela cadeira de história universal, procedimento com o qual Capistrano não concordava. Sua passagem pelo colégio imperial é de extrema importância, pois marca a elaboração de sua tese “O descobrimento do Brasil e seu desenvolvimento no século XVI”, trabalho que viria a ser uma das bases dos Capítulos de História Colonial e, segundo Francisco Iglesias, a primeira obra de vulto de Capistrano. Antes disso, havia escrito apenas artigos para jornais e o necrológio de Francisco Adolfo de Varnhagen (1816-1878), o Visconde de Porto Seguro, em 1878. (IGLESIAS, 2000, p. 118)

Durante o período em que permaneceu como professor do colégio D. Pedro II, Capistrano seguiu avançando em seus estudos, publicando artigos e traduções de obras europeias, especialmente alemãs, e se tornou membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), em 1887. Sua saída do colégio, em 1899, marca a independência de Capistrano de qualquer outro emprego fixo que não fosse o de escrever para jornais e realizar pesquisas históricas. Permaneceu assim até o ano de sua morte, 1927, tendo sido socorrido financeiramente em algumas oportunidades por seu amigo e admirador, Paulo Prado.

Tendo completado sua formação no último quartel do século XIX, período em que o Brasil ainda não possuía universidades com a cadeira de História, Capistrano de Abreu se tornou historiador pela via do autodidatismo, tendo se dedicado fervorosamente ao estudo de línguas e aprendido apenas com o auxílio dos dicionários o inglês, o francês, o alemão, o italiano, o holandês e até mesmo o sueco (RODRIGUES, 1970, p. 178). Ainda na área dos estudos linguísticos, cabe uma honrosa menção dos valiosos estudos feitos por Capistrano sobre as línguas indígenas brasileiras. Dedicou-se tanto a estas pesquisas, que chegou a publicar um livro sobre as línguas dos índios Kaxinauás e Bacaeris[1], dentro do espírito das instruções que Carl Friedrich Von Martius dera, ainda em 1840, em sua famosa monografia sobre Como se deve escrever a História do Brasil[2]. Assim, foi apenas depois de um período de meio século, marcado por uma historiografia que preferia deixar de lado a participação dos índios na História do Brasil, que esses sujeitos vão começar a ganhar algum protagonismo nas obras de Capistrano de Abreu. O estudo dos indígenas, seus costumes e cultura começavam a entrar no contexto daqueles que pensavam e construíam a história pátria.

SOBRE O CAPÍTULOS DE HISTÓRIA COLONIAL

Para Capistrano de Abreu, Varnhagen havia deixado muitas lacunas a serem preenchidas, especialmente sobre o século XVII. Como José Honório Rodrigues nos demonstra em seu prefácio, Capistrano direcionou o foco de sua pesquisa justamente para este período, pois para ele: “tirando o que diz respeito às guerras espanholas e holandesas, quase nada há para representar este século. Preencher estas colunas é, portanto, meu interesse principal.” (RODRIGUES, 1988, p. 14). Além disso, o outro ponto fundamental importância para Capistrano era responder como se deu o povoamento da zona entre o São Francisco e o Parnaíba, tida por ele como a questão mais importante da história pátria.

Francisco Adolfo de Varnhagen (1816-1878), marco referencial de Capistrano de Abreu para escrever seus Capítulos de História Colonial.

Contudo, os Capítulos de História Colonial só começaram a ser escritos efetivamente em 1903. Por esta época, Capistrano fora chamado a prefaciar, anotar e corrigir justamente a obra História Geral do Brasil, de Adolfo Varnhagen. Pretendia fazer de seu livro uma introdução de aproximadamente cem páginas para cada um dos três volumes da obra de Varnhagen, fazendo uma síntese de cada período correspondente. “Se levar isto ao cabo, fica pronto o livro a que reduzi minhas ambições da História do Brasil, um volume do formato de um romance francês”. (RODRIGUES, 1988, p. 16). Porém, suas intenções quanto a obra de Varnhagen foram reduzidas pelo contratante a um único volume e suas introduções reduzidas a notas, comentários e identificações de fontes.

Em 1905, Mário Behring, funcionário da Biblioteca Nacional e proprietário da revista Kosmos, lhe chama para escrever artigos sobre história do Brasil para sua revista. Capistrano vê a oportunidade de lançar seu livro através de capítulos nesta revista e assim começa a escrever, sob o título de História Pátria, um capítulo a cada mês. Segundo José Honório Rodrigues, o texto publicado na revista Kosmos diferia daquele que seria publicado nos Capítulos de História Colonial em 1907. Alguns artigos eram capítulos bem resumidos do que seria o livro, como é o caso do Capítulo II e, outros artigos, nem chegaram a figurar no livro, como foi o caso dos artigos de Maio e Julho. No fim, dos seis artigos escritos para a revista Kosmos, quatro seriam aproveitados nos Capítulos de História Colonial. (RODRIGUES, 1988, p. 19).

Em 1906, Capistrano aceita participar da obra O Brasil, suas riquezas naturais, suas indústrias, que seria lançado por iniciativa do Centro Industrial do Brasil em setembro daquele ano. Sua obra faria parte do primeiro volume, na parte introdutória, e seria intitulada Breves Traços da História do Brasil ou Noções de História do Brasil até 1800, como acabou sendo referenciada no índice da obra do Centro Industrial. Capistrano começou a trabalhar no seu texto em janeiro de 1906, trabalhando à toda força em um esboço histórico e geográfico do Brasil. “Marcaram-me o limite de 120 páginas (…) e tenho cinco meses para fazer tudo”. Em novembro de 1906, faltava apenas o seu esboço para que a obra fosse publicada. Em janeiro de 1907, concluiu o livro contendo trezentas páginas e chegando até o período anterior a D. João VI. Levara praticamente um ano para escrevê-la, de 2 de janeiro de 1906 à 7 de janeiro de 1907. A encomenda feita pelo Centro Industrial não se limitava ao período colonial, mas estendia-se até a República. Capistrano acreditava que poderia “em dois ou três meses escrever a história contemporânea”, mas nunca chegou a escrevê-la, sendo este trabalho o entregue para a publicação (RODRIGUES, 1988, p. 20-23).

Devido ao atraso de Capistrano em entregar seu trabalho, a revisão foi feita às pressas e não houve tempo hábil para a colocação de trechos transcritos e para citar as fontes. Ironicamente, faltava em se trabalho aquilo que ele acidamente criticava no trabalho de outros, como o próprio Varnhagen, as fontes. Por essa e por outras razões mais psicológicas, assim que entregou seu texto para a publicação, já não gostava mais dele. Tinha a intenção de reeditá-lo rapidamente e corrigi-lo, incluindo as notas e referências bibliográficas que faltaram na primeira edição. Chegou até mesmo a propor a reimpressão do livro no fim daquele mesmo ano, para que fosse distribuído aos assinantes do Jornal do Comércio, mas nunca fez a revisão ou a correção de sua obra. Esta só seria realizada postumamente pela Sociedade Capistrano de Abreu, sociedade fundada por amigos e admiradores para manter a sua memória.

Assim, Capítulos de História Colonial, é um livro produzido às pressas, sobre a pressão de ser publicado rapidamente, em função do cronograma de projeto do livro onde ele estaria inserido. Apesar disso, em nada esta obra fica a dever aos outros clássicos da História do Brasil, tendo ela mesma já nascida um clássico, tal como afirma Francisco Iglesias:

“Capítulos de História Colonial foi um dos grandes livros da historiografia  brasileira. Foi o primeiro grande sobre a colônia, só sendo superado como o maior em 1942 com o lançamento de Formação do Brasil Contemporâneo, por Caio Prado Júnior”. (IGLESIAS, 2000, p. 117-125).

Já Fernando Novais, ao fazer o prefácio da edição estadunidense do livro de Capistrano, editado pela Oxford University Press em 1997, dizia sobre Capistrano de Abreu e sua obra:

“Capistrano de Abreu built a bridge between the first (IHGB) and third (university) phases of brazilian historiography (…) a comprehensive history, with its integrating dialogue with the social sciences, is the distinguishing trait of modern Brazilian historiography, which began in the 1930 with the work of a particular generation: Gilberto Freyre, Caio Prado Jr. and Sérgio Buarque de Holanda – as well as with the founding of universities”. (NOVAIS, 1997, p. xiv).”

COMENTÁRIOS FINAIS

Como disse anteriormente, no corpo deste post deixei apenas partes que selecionei da resenha que escrevi para a disciplina de Metologia de História.

Abaixo disponibilizei links para o download na íntegra não só da minha resenha, mas também para a obra completa.

LINKS RELACIONADOS:


[1] Para os estudos linguísticos indígenas de Capistrano, ver ABREU, João Capistrano de. Rã-Txa hu-ni-ku-i. Rio de Janeiro: Tipografia Leuzinger, 1914.

[2] A editora Itatiaia, de Belo Horizonte, inseriu esta monografia em uma coletânea sobre o Direito entre os índios. Ver MARTIUS, Carl F. Von. Como se deve escrever a história do Brasil. In: O Estado de Direito entre os autóctones do Brasil. Belo Horizonte/São Paulo: Itatiaia/Edusp, 1982.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

  • ABREU, João Capistrano de. Capítulos de História Colonial. Belo Horizonte: Itatiaia, 1988.
  • AMED, Fernando. As cartas de Capistrano de Abreu: sociabilidade e vida literária na belle époque carioca. São Paulo: Alameda, 2006.
  • CAMPOS, Pedro Moacyr. Esboço da historiografia brasileira. In: GLÉNISSON, Jean. Introdução aos estudos históricos. São Paulo: Difel, 1961, PP. 273-280.
  • IGLESIAS, Francisco. Historiadores do Brasil: capítulos de historiografia brasileira. Belo Horizonte: UFMG, 2000, PP. 117-125.
  • MARTIUS, C. F. Von. Como se deve escrever a História do Brasil. In: O Estado de Direito entre os autóctones do Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia, 1982.
  • NOVAIS, Fernando A. Preface. In: ABREU, João Capistrano de. Chapters of Brazil’s colonial history. Oxford: Oxford University Press, 1997.
  • ODÁLIA, Nilo. As formas do mesmo: ensaios sobre o pensamento historiográfico de Varnhagen e Oliveira Vianna. São Paulo: UNESP, 1997, p. 11-24.
  • REIS, José Carlos. As identidades do Brasil: de Varnhagen a FHC. São Paulo: FGV, 2000.
  • RODRIGUES, José Honório. História e Historiografia. Petrópolis: Vozes, 1970.
  • __________. Prefácio. In: ABREU, José Capistrano de. Capítulos de História Colonial. Belo Horizonte: Itatiaia, 1988, pp. 11-42.
  • SCHWARCZ, Lilia M. O espetáculo das raças: cientistas, instituições e questão racial no Brasil – 1870-1930. São Paulo: Companhia das Letras, 1993.
  • __________. Os guardiões de nossa história oficial: os Institutos Históricos e Geográficos Brasileiros. São Paulo: IDESP, 1989.
  • SOUZA, Laura de Mello e. Aspectos da historiografia da cultura sobre o Brasil colonial. In: FREITAS, Marcos Cezar de (org.) Historiografia brasileira em perspectiva. São Paulo: Contexto, 1988, pp. 17-38.

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[Textos Clássicos] A Ideologia Alemã

Atendendo a sugestão da amiga e também historiadora Célia Regina, estou inaugurando uma nova página no blog que é a de TEXTOS. A ideia é publicar neste espaço alguns textos clássicos da historiografia cuja leitura foi recomendada pelos professores do curso de História da FFLCH-USP.

A IDEOLOGIA ALEMÃ

Em homenagem ao 129º ano do falecimento de Karl Marx, ocorrida em 14/03/1883, o texto de estréia da página é extraído da obra A ideologia alemã, escrita em parceria com seu amigo Friedrich Engels.

Filósofo alemão, Karl Marx nasceu em Trier em 5 de Maio de 1818 e morreu em Londres a 14 de março de 1883. Estudou Direito nas universidades de Bonn e Berlim, mas dedicou-se principalmente a filosofia hegeliana, tendo se formado em 1841, com a tese Sobre as diferenças da filosofia da natureza de Demócrito e de Epicuro.

O livro A ideologia alemã, foi escrito nos anos de 1845-46 e, censurado, não foi publicado em uma edição completa até o ano de 1932.

Segundo o site da Boitempo Editorial, que recentemente publicou uma edição integral do livro, A ideologia alemã:

(…) é considerada por muitos estudiosos a obra de filosofia mais importante de Marx e Engels. Representa a primeira exposição estruturada da concepção materialista da história e é o texto central dos autores acerca da religião. Nela eles concluem um acerto de contas com a filosofia de seu tempo – tanto com a obra de Hegel como com os chamados “hegelianos de esquerda”, entre os quais Ludwig Feuerbach. Esse ajuste passou antes pelos Manuscritos econômico-filosóficos, por A sagrada família, por A situação da classe trabalhadora na Inglaterra, para alcançar em A Ideologia Alemã sua primeira formulação articulada como método próprio de análise. 

A crítica – quase toda em tom sarcástico – dos dois filósofos ridiculariza o idealismo alemão e articula as categorias essenciais da dialética marxista (como trabalho, modo de produção, forças produtivas, alienação, consciência), constituindo assim um novo corpo teórico.  

FONTE: Boitempo Editorial

O trecho selecionado é apenas um aperitivo, já que tratam-se apenas de algumas poucas páginas do primeiro capítulo no qual Marx & Engels  fazem a crítica ao filósofo alemão Feuerbach, estabelecendo uma oposição entre as concepções materialista e idealista.

Como não poderia deixar de ser, como se pode supor pelo nome deste blog, destaco aqui um pequeno trecho, que foi riscado no manuscrito original, no qual Marx fala da história como ciência:

1. A ideologia em geral, e a filosofia alemã em especial

Conhecemos apenas uma ciência, a ciência da história. A história pode ser examinada sob dois aspectos. Pode ser dividida em história da natureza e história dos homens. Os dois aspectos, entretanto, são inseparáveis; enquanto existirem os homens, sua história e a da natureza se condicionaram reciprocamente. A história da natureza, que designamos como ciência da natureza, não nos interessa aqui; em compensação, teremos que nos ocupar pormenorizadamente da história dos homens; com efeito, quase toda a ideologia ou se reduz a uma concepção falsa dessa história, ou procura fazer dela total abstracção. A própria ideologia não passa de um dos aspectos dessa história.

Espero que gostem desta novidade e que os textos ali disponíveis possam ser de proveito não apenas para quem estuda História, mas para todos que se interessem por boa leitura.

DOWNLOAD DO TEXTO

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