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[SAFATLE] Democracia na USP

Coluna publicada originalmente na Folha de S. Paulo – 08/10/2013

Vladimir Safatle, professor de Filosofia da Universidade de São Paulo

Na última semana, a Universidade de São Paulo foi objeto de várias notícias, desde sua queda brusca em um ranking internacional de avaliação até a invasão da reitoria por alunos. Diante dessas situações, nosso reitor achou por bem estabelecer um amálgama perguntando, em entrevista concedida a esta Folha: “Há alguma universidade muito bem classificada nos rankings mundiais em que aconteçam tomadas violentas de espaço, como as que voltaram a ocorrer na USP? Obviamente que não”.

Sim, ele tem razão. Por isso, nunca entendi por que nossos reitores costumam chamar policiais militares munidos de metralhadora e bomba de gás lacrimogêneo para mediar conflito com estudantes. Também sempre me perguntei se não seria terrível para nossa reputação ter imagens nos jornais internacionais de policiais dispersando manifestações estudantis com balas de borracha.

Creio que a reputação ficaria ainda pior se alguém se perguntasse por que os estudantes se manifestam periodicamente: por uma estrutura acadêmica mais democrática. Pois há uma relação entre democracia e qualidade acadêmica.

Uma instituição mais democrática ouve sistematicamente seus professores e alunos, permitindo que as decisões fiquem mais próximas das reais necessidades de pesquisa e ensino. A luta por democracia na universidade não é estratégia para criar uma instituição mais corporativa, como alguns gostam de acreditar. É defesa de uma instituição mais racional em suas decisões e mais representativa das condições de trabalho que permitam o desenvolvimento de seus corpos docente e discente.

Por exemplo, na sacrossanta questão da internacionalização da USP, há prioridades que mereceriam um debate com nossos pesquisadores. A universidade gasta prioritariamente na concessão de bolsas para alunos de graduação, além de ter dispensado grande energia na abertura de escritórios em Londres, Boston e Cingapura, que ainda não demonstraram sua real função.

Não são poucos os pesquisadores que acham mais racional compreender que a USP chamará alunos estrangeiros quando suas pesquisas e pesquisadores forem melhor conhecidos em outros países. Isso exigiria priorizar não a graduação, mas a pós-graduação, pois é lá que está a pesquisa. Por outro lado, se a citação de artigos é uma questão que pesa de maneira decisiva nos rankings internacionais, melhor seria priorizar linhas de financiamento para a tradução de artigos acadêmicos de nossos professores, como várias universidades não anglófonas fizeram.

Em uma instituição mais democrática, a decisão sobre questões dessa natureza seria tomada por quem realmente trabalha e vivencia o “chão de fábrica” da academia.

Vladimir Safatle, professor de filosofia e colunista da Folha de São Paulo.

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Comissão da Verdade: entidades denunciam golpe do reitor da USP

publicado originalmente no VIOMUNDO em 08.mai.2013

CANETAÇO DO REITOR IRRITA SERVIDORES E ESTUDANTES
por Luiz Carlos Azenha

Atual reitor da USP, João Grandino Rodas

Foi uma longa e árdua campanha (aqui, o blog), desde maio de 2012, das entidades que congregam os servidores e estudantes da Universidade de São Paulo pela instalação de uma Comissão da Verdade. A ideia era de que ela fosse formada por representantes de professores, funcionários e estudantes, além de membros do conselho universitário. Todos consideraram um avanço o fato de a reitoria ter aberto negociações para tratar do assunto.

No entanto, agora as entidades se dizem vítimas de um golpe do reitor João Grandino Rodas, que descartou as negociações em andamento e decidiu nomear ele mesmo a Comissão da Verdade, integrada por sete membros: Dalmo de Abreu Dallari, da Faculdade de Direito (FD), na qualidade de presidente; Erney Felicio Plessmann de Camargo, do Instituto de Ciências Biomédicas; Eunice Ribeiro Durham e Janice Theodoro da Silva, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH); Maria Hermínia Brandão Tavares de Almeida, do Instituto de Relações Internacionais (IRI); Silvio Roberto de Azevedo Salinas, do Instituto de Física (IF); e Walter Colli, do Instituto de Química (IQ).

As entidades que se dizem traídas pelo reitor consideram que uma Comissão nomeada por ele não terá a autonomia e independência necessárias, contará com um prazo muito exíguo para a apuração — 12 meses — e terá um número muito pequeno de integrantes para aprofundar as investigações, já que os sete indicados cumprem várias outras funções profissionais.

Ou seja, acreditam que o objetivo do reitor foi limitar a apuração sobre os 47 assassinados ou desaparecidos pela ditadura militar que tinham relação com a USP, sobre os professores cassados e aposentados compulsoriamente, sobre os estudantes que não puderam concluir seus cursos e sobre as mudanças no projeto pedagógico impostas pela ditadura através de intervenções nos departamentos das unidades.

No post publicado por Azenha para o Viomundo é possível ouvir a denúncia de Renan Honório Quinalha, da Associação dos Pós-Graduandos, que havia sido indicado pelos estudantes de pós-graduação para compor a Comissão.

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Rodas e a USP dos nossos piores pesadelos

Cartoon de Carlos Latuff sobre a autonomia universitária na USP

Estas férias de 2011/2012 entrarão na história da USP como aquelas em que os movimentos e organizações estudantis foram mais atacados por um único reitor depois do período da ditadura. Apenas para se ter uma ideia, no intervalo de apenas uma semana, vimos o reitor pedindo ação dos governos de São Paulo para reurbanizar áreas vizinhas ao Campus da USP, o que indica que uma higienização nas comunidades de São Remo e Carmine Lourenço, entre outras, está a caminho, conforme comentamos no post de 09/02/2012.

Em seguida, fomos pegos de surpresa ao sermos informados de que a partir do próximo dia 27 de fevereiro, quando as aulas recomeçam, os alunos, professores e funcionários receberão um bilhete único exclusivo para ser usado nas duas linhas de ônibus circular do local, que passarão a ser gerenciadas pela São Paulo Transporte (SPTrans), da Prefeitura.
Oras, se a Universidade e a
Reitoria querem, de fato, integrar a USP com as comunidades vizinhas, então porque cria este Bilhete Único da USP??? É óbvio que essa história de USP de portões abertos para a comunidade não passa de balela e que, para a reitoria da Universidade, lugar de pobre é fora da USP. Agora até mesmo quem não for estudante, se não tiver carro e quiser circular dentro do campus, terá que pagar. Pobre não tem vez!!! Visitante bom são os riquinhos de academia tipo Run & Fun e Runner que vão fazer seus treinos com vans personalizadas, personal trainners e isotônicos lá dentro do campus, isso sem falar naqueles ciclistas com suas roupas cheias de anúncios, como lembrou a amiga Juliana. Para estes, o magnífico Reitor até aumenta o policiamento para garantir a segurança deles. Portanto, a ação de criar um bilhete único da USP, visa claramente diminuir o número de pessoas não ligadas a Universidade utilizando os circulares. UM ABSURDO!!!!


E hoje, novamente, por volta das 5h da manhã o Reitor Rodas chamou a Polícia Militar para acabar com a ocupação da moradia Retomada. Na operação de hoje, doze estudantes foram presos, apesar de não terem resistido. A advolgada Ana Lúcia Marchiori disse que o mandado de reintegração de posse foi expedido no dia 17, sexta-feira. “Foi feito de propósito para que a ação fosse feita no fim de semana e evitar a repercussão”. Os alunos detidos, exceto uma adolescente de 17 anos que também havia sido detida, responderão por desobediência e danos ao patrimônio. “Só que não havia perito para atestar os danos ao patrimônio e não houve resistência”, defende a advogada. Ou seja, uma vez mais, nossos colegas serão criminalizados por fazerem uma manifestação legítima e política dentro do ambiente universitário.

Para recuperar o histórico desta ocupação, em março 2010, diante da triste situação da assistência e permanência estudantil na USP, quando mais de 100 calouros que tiveram o alojamento emergencial negado pela Coordenadoria de Assistência Social, estudantes retomaram um espaço no Conjunto residencial da USP (CRUSP) que havia sido tomada pela Divisão de Promoção Social da COSEAS e pelo banco Santander, inviabilizando a utilização do espaço como moradia estudantil. A então Moradia retomada foi uma forma de viabilizar moradia a estudantes que não conseguiam passar pelo “pente fino” da Reitoria para garantir o que deveria ser um direito: a moradia estudantil assegurada pela Universidade.

Abaixo, um vídeo gravado em 30/01/2012, portanto, 20 dias antes da ação de reintegração realizada pela PM, onde professores e membros do SINTUSP dão seu depoimento sobre o estado de conservação das moradias retomadas e declaram seu apoio total ao movimento.

E, em seguida, um vídeo realizado por testemunhas que registraram a invasão da tropa de choque no CRUSP ocorrida neste último domingo de carnaval, dia 19 de fevereiro de 2012.

No dia 20 de janeiro de 2012, a Rádio Brasil Atual recebeu em seus estúdios os estudantes Augusto Saraiva e Rosi Santos, que foram presos na operação policial, e a aluna Laura Lima, moradora de outro bloco do Crusp, que presenciou a ação da PM. Em entrevista à repórter Lúcia Rodrigues, eles descrevem o que ocorreu na reintegração da área. Escute a entrevista na Rádio Rede Brasil.

Durante a entrevista, uma DENÚNCIA muito grave foi realizada por uma das estudantes presas, que informou que O médicO que realizou o exame de corpo de delito no IML obrigou as estudantes presas a “baixarem suas calcinhas” e ficarem COMPLETAMENTE NUAS diante DELE.

Conforme destacado por uma das alunas durante a entrevista, uma das estudantes presas estava grávida e foi arrastada pela Polícia Militar da moradia ocupada até o ônibus da polícia que a levaria até o D.P. Um vídeo contendo estas imagens foi gravado por moradores do CRUSP. Percebam que os policiais tem o cuidado de colocar um cobertor sobre a barriga da grávida para esconder a vergonhosa maneira como a estavam tratando. A estudante retira o cobertor, mas um policial rapidamente recoloca o cobertor no local.

Como destacou um professor da História nas redes sociais, “Em pleno Carnaval…semanas antes de começarem as aulas…
Não são os alunos “radicais”, os funcionários “malucos” ou os professores “esquerdistas” que não querem a volta à “normalidade” na USP. É o Reitor. Na verdade, o “normal” na USP é isso mesmo.”

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O magnífico reitor da USP

Rodas pelo cartunista Carlos Latuf

Para começar o fim de semana, deixo o cartoon sugestivo feito pelo excelente cartunista Carlos Latuf, que retratou muito bem o magnífico reitor da USP, João Grandino Rodas.

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