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Paris adota TARIFA ZERO por três dias como medida de saúde pública

O governo francês anunciou que vai adotar a TARIFA ZERO no transporte público da cidade de Paris em razão da poluição.

Torre Eifel é fotografada em meio à poluição de Paris. Foto: AP Photo/Jacques Brinon

Segundo notícia divulgada pela revista Época, a medida do governo francês de não cobrar tarifa do transporte público por três dias, busca estimular os franceses a deixarem seus carros na garagem. Deste modo, desde a última sexta-feira (14) até hoje (16), metrôs, ônibus e trens são gratuitos na região de Paris e nas cidades de Caen e Rouen.

Para Bruno Calixto, autor de post intitulado A poluição do ar de Paris é mais chique publicado no Blog do Planeta, esta é uma decisão que não deve ser comemorada, como ocorreu nas redes sociais durante a semana, por tratar-se de uma medida emergencial de combate à poluição e não de uma política ambiental de fato. Ao comparar as reações da opinião pública através das redes sociais em relação às crises de qualidade do ar na China e na França, Calixto questiona a razão do tratamento dos dois casos ser tão diferente, argumentando que, no caso chinês, ao invés de louvar as medidas adotadas pelo governo, normalmente relatam-se os problemas de saúde decorrentes da poluição e as restrições vividas diariamente pela população atingida por este grave problema. Assim, ironicamente, o autor conclui que provavelmente a diferença de tratamento dado pelas redes sociais às medidas adotadas pelos governos chinês e francês para mitigar o problema da poluição do ar nesses países, deve-se provavelmente ao fato da poluição do ar parisiense ser mais chique do que o das cidades chinesas, conforme já indicava o título do post.

Ora, embora Bruno Calixto não tenha mencionado em seu texto, as reações de apoio às medidas adotadas pelo governo chinês podem não ter repercutido nas redes sociais com o mesmo vigor da medida francesa, pois não se teve notícias de que uma cidade tão relevante para a economia chinesa como Beijing ou Xangai, por exemplo, tenha liberado a tarifa de seus transportes público, tal como ocorreu com Paris nessa semana. De modo que a comparação feita por Calixto fica totalmente comprometida por não estar tratando de medidas compatíveis (como comparar proibição de fazer churrasco ao ar livre com a liberação da tarifa no transporte público)?

Entendo que, embora a medida seja emergencial e temporária, ela deve sim ser comemorada. Em primeiro lugar, porque trata-se de uma oportunidade para que a população tenha a experiência de se locomover livremente pela cidade, tendo acesso a qualquer ponto da urbe sem pagar nada a mais por isso além dos impostos já recolhidos. Em segundo lugar, pois não há notícias de que uma cidade tão grande e importante como Paris, ainda que de modo emergencial, tenha decidido liberar o pagamento das tarifas do transporte público e, portanto, trata-se de uma experiência que pode ser marcante para as lutas travadas pela população daquela cidade num futuro próximo, justamente por suscitar questionamentos sobre a real necessidade da cobrança dessas tarifas: a quem as tarifas do transporte atendem? No que elas nos limitam? Que tipo de problemas sociais elas podem causar?

Em nota divulgada nas redes sociais, o Movimento Passe Livre-RJ lembra bem que os reais motivos pelos quais a TARIFA ZERO não seja implementada mundialmente não são de ordem técnica, mas essencialmente políticos e econômicos. Destaque, por exemplo, para o interesses no favorecimento de empresários para a manutenção de uma população controlada e restrita em seu direito de ir. Interesses esses que, muito mais do que a solução para o atual caos urbano em que vivemos, privilegiam o domínio do automóvel particular sobre o transporte coletivo, aumentando não só a poluição do ar, como vinhamos falando, mas gerando um trânsito caótico e, sobretudo, não atendendo a população em suas necessidades mais básicas: locomoção. Nesse sentido, o do desserviço à população, vale destacar que uma das estratégias dos empresários do transporte público para terem mais pagantes por ônibus ou trem, é reduzir as frotas e a qualidade do serviço prestado. Além disso, a manutenção das tarifas no transporte público também podem ser responsabilizadas por diversos problemas sociais vivenciados pelos cidadãos, como o aumento do desemprego e a segregação sócio-espacial, culminando com o favorecimento da intensificação da violência policial como controle social e à violência urbana decorrente dela.

Enfim, diferentemente do que defendeu Bruno Calixto em sue post, entendo que apenas por suscitar tais questionamentos e um debate mais amplo sobre as reais necessidades de se manter a cobrança das tarifas no transporte público, a medida tomada pelo governo francês na suspensão dessas tarifas, ainda que de modo temporário, deve, sim, ser comemorada e servir de estímulo para que a população perceba cada vez mais a falta de necessidade da cobrança dessas tarifas e lute para a revogação total delas o quanto antes.

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Tarifa Zero já é realidade no Brasil e no mundo, e não é de hoje.

Tarifa Zero

A tarifa zero não é novidade no Brasil. Pioneira na implantação do sistema, a cidade de Potirendaba, em São Paulo, não cobra tarifa desde 1998. Agudos, outra cidade do interior paulista, também aderiu ao tarifa zero desde 2003. Em Ivaporã, no Paraná, o transporte público é 100% financiado desde 2001.

Para evitar a desinformação daqueles que acreditam ser impossível adotar a Tarifa Zero, pois em lugar nenhum do mundo ela foi aplicada ou está em vigência, o Hum Historiador repercute a matéria divulgada no portal MOBILIZE BRASIL.

CONHEÇA QUATRO CIDADES BRASILEIRAS QUE NÃO COBRAM PASSAGEM DE ÔNIBUS

Tarifa zero é realidade em algumas localidades do interior do país. Saiba onde o transporte não pesa no bolso do trabalhador.

A reivindicação do Movimento Passe Livre contra o aumento das passagens e pela implantação da tarifa zero na capital paulistana pode parecer uma utopia, mas em pelo menos quatro cidades do interior do Brasil ela já é realidade. E, em alguns casos, há mais de uma década. Em Agudos e Potirendaba, no interior de São Paulo, em Porto Real, no Rio de Janeiro, e em Ivaporã, no Paraná, ninguém paga para andar de ônibus.

Em Agudos, a tarifa zero foi implantada em 2003 pelo então prefeito Carlos Octaviani (PMDB) e resiste até hoje. Lá, o transporte público é 100% gratuito para todos os 40 mil habitantes. Todo o sistema, que transporta cerca de 9 mil pessoas/dia, é operado pela prefeitura e os motoristas são funcionários concursados.

Em Potirendaba, cidade com 16 mil habitantes, o transporte também é gratuito. Em 1998, o município foi pioneiro no Brasil na implantação da tarifa zero, mas o benefício foi suspenso durante um período pela administração passada, sendo retomado pela atual prefeita, Gislaine Montanari Franzotti (PMDB), reeleita ano passado. Os ônibus circulam das 6h`as 22h e transportam por dia cerca de 200 passageiros. Mesmo caso de Ivaporã, no Paraná, onde o transporte público é 100% subsidiado desde 2001. Na cidade de Porto Real, de 17 mil habitantes, segundo lugar no ranking nacional do PIB (Produto Interno Bruto) per capita, os usuários não pagam tarifa desde 2011.

O prefeito de Agudos, Everton Octaviani (PMDB), diz que a tarifa zero custa aos cofres públicos cerca de R$ 40 mil por mês. “Não é fácil manter o serviço, mas foi uma opção que fizemos e que teve efeitos muito positivos. O município passou a atrair empresas, que ficam dispensadas de pagar o vale-transporte, e gerar emprego e renda”. Segundo ele, se a passagem fosse cobrada, a tarifa seria em torno de R$ 1,50, recurso que, na sua opinião, pesa no bolso de uma família grande e de baixa renda. Para o prefeito, a experiência de Agudos e de outras cidades do Brasil que adotam tarifa zero deveria servir de modelo para as grandes cidades.

“Alguém pode dizer que bancar isso é fácil porque nossa cidade é pequena, mas não é bem assim. Nossa arrecadação é proporcional ao nosso tamanho e se R$ 100 mil, mais ou menos o custo desse subsídio hoje, pode ser nada para uma cidade como São Paulo, para a gente é muito dinheiro. As concessões têm de ser revistas, o serviço tem que ser melhor e a passagem, mesmo que não dê para ser gratuita em todas as cidades, tem de ser menor”.

É também o que defende um dos idealizadores da tarifa zero, o engenheiro Lúcio Gregori, ex-secretário municipal de Transportes de São Paulo entre 1990 e 1992, durante a gestão da então prefeita Luiza Erundina, na época filiada ao PT. Na época, Erundina chegou a propor o subsídio integral do transporte público, que seria bancado com o aumento de impostos como IPTU, mas o projeto não vingou na Câmara Municipal. Para ele, o transporte gratuito é tão possível quanto a educação e a saúde gratuitas. É claro, destaca o engenheiro, que a realidade das cidades é diferente, “mas as administrações tinham que investir para garantir um forte subsídio, tendo como meta a tarifa zero”.

Segundo Gregori, a gratuidade já é praticada em mais de 30 cidades dos Estados Unidos com população entre 180 mil e 200 mil habitantes. Também já é realidade em Chengdu, na China, cidade com cerca de 4,6 milhões. (AM)

Gratuidade no mundo

 » Hasselt (Bélgica)

Desde 1º de julho de 1997, as linhas municipais de Hasselt são de uso gratuito para todos e, no caso de linhas centrais, até mesmo para quem não mora na cidade

» Sydney (Austrália)

Oferece linhas circulares de ônibus gratuitos.

» Changning (China)

Desde 2008 o governo subsidia o transporte público em Changning. O custo é bancado com recursos próprios, renda do espaço publicitário nos ônibus e isenção de impostos federais incidentes sobre o combustível.

» Changzhi (China)
Desde 2009, a população de Changzhi – condado de característica industrial, com 320 mil habitantes, pode utilizar gratuitamente qualquer ônibus da região.

» Corvallis (EUA)

O sistema de transporte de Corvallis, EUA, passou a operar com tarifa zero a partir de 2012. O custo é bancado por uma Taxa de Transporte cobrada mensalmente de cada família.

A filósofa e professora da USP, Marilena Chauí, concedeu um depoimento explicando as razões pelas quais é favorável à Tarifa Zero: justiça, história e participação. Para os que desejam ouvir o depoimento da professora Marilena Chauí, deixo o breve vídeo abaixo. Não percam!

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PEC 90/2011 recebeu parecer favorável do relator da CCJ

Como havia noticiado em post anterior, a Proposta de Emenda a Constituição 90/2011 de autoria da deputada Luiza Erundina (PSB-SP), foi votada nesta última terça-feira (25) pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado Federal. O Hum Historiador acompanhou a votação e informa que a CCJ aprovou a admissibilidade da PEC que inclui o transporte no grupo de direitos sociais destinados a todas as pessoas, estabelecidos pela Constituição.

A proposta recebeu parecer favorável do relator, deputado Beto Albuquerque (PSB-RS), e agora terá seu mérito analisada por uma comissão especial a ser criada. Após esta etapa, a proposta seguirá para o Plenário, onde será votada em dois turnos.

No calor do presente momento, no qual milhares de manifestantes foram as ruas exigir a gratuidade do transporte público, vários deputados da CCJ manifestaram-se favoravelmente à PEC argumentando a atualidade da proposta. Nesta última segunda-feira (24), inclusive, a aprovação da PEC, já havia sido defendida por representantes do Movimento Passe Livre, em reunião com a presidente Dilma Rousseff. Para os ativistas, o transporte público e o acesso a cidade é um direito, da mesma forma que a saúde e a educação, e deve receber investimentos de todas as esferas de governo.

Fonte: Blog do Fábio Sena

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Carta aberta do Movimento Passe Livre São Paulo a presidenta Dilma Rousseff

O Hum Hisotriador abre espaço para repercutir a excelente carta aberta enviada pelo Movimento Passe Livre à presidenta Dilma Rousseff dia 24/06/2013.

À Presidenta Dilma Rousseff,

PasseLivreFicamos surpresos com o convite para esta reunião. Imaginamos que também esteja surpresa com o que vem acontecendo no país nas últimas semanas. Esse gesto de diálogo que parte do governo federal destoa do tratamento aos movimentos sociais que tem marcado a política desta gestão. Parece que as revoltas que se espalham pelas cidades do Brasil desde o dia seis de junho tem quebrado velhas catracas e aberto novos caminhos.

O Movimento Passe Livre, desde o começo, foi parte desse processo. Somos um movimento social autônomo, horizontal e apartidário, que jamais pretendeu representar o conjunto de manifestantes que tomou as ruas do país. Nossa palavra é mais uma dentre aquelas gritadas nas ruas, erguidas em cartazes, pixadas nos muros. Em São Paulo, convocamos as manifestações com uma reivindicação clara e concreta: revogar o aumento. Se antes isso parecia impossível, provamos que não era e avançamos na luta por aquela que é e sempre foi a nossa bandeira, um transporte verdadeiramente público. É nesse sentido que viemos até Brasília.
O transporte só pode ser público de verdade se for acessível a todas e todos, ou seja, entendido como um direito universal. A injustiça da tarifa fica mais evidente a cada aumento, a cada vez que mais gente deixa de ter dinheiro para pagar a passagem. Questionar os aumentos é questionar a própria lógica da política tarifária, que submete o transporte ao lucro dos empresários, e não às necessidades da população. Pagar pela circulação na cidade significa tratar a mobilidade não como direito, mas como mercadoria. Isso coloca todos os outros direitos em xeque: ir até a escola, até o hospital, até o parque passa a ter um preço que nem todos podem pagar. O transporte fica limitado ao ir e vir do trabalho, fechando as portas da cidade para seus moradores. É para abri-las que defendemos a tarifa zero.

Nesse sentido gostaríamos de conhecer o posicionamento da presidenta sobre a tarifa zero no transporte público e sobre a PEC 90/11, que inclui o transporte no rol dos direitos sociais do artigo 6o da Constituição Federal. É por entender que o transporte deveria ser tratado como um direito social, amplo e irrestrito, que acreditamos ser necessário ir além de qualquer política limitada a um determinado segmento da sociedade, como os estudantes, no caso do passe livre estudantil. Defendemos o passe livre para todas e todos!

Embora priorizar o transporte coletivo esteja no discurso de todos os governos, na prática o Brasil investe onze vezes mais no transporte individual, por meio de obras viárias e políticas de crédito para o consumo de carros (IPEA, 2011). O dinheiro público deve ser investido em transporte público! Gostaríamos de saber por que a presidenta vetou o inciso V do 16º artigo da Política Nacional de Mobilidade Urbana (lei nº 12.587/12) que responsabilizava a União por dar apoio financeiro aos municípios que adotassem políticas de priorização do transporte público. Como deixa claro seu artigo 9º, esta lei prioriza um modelo de gestão privada baseado na tarifa, adotando o ponto de vista das empresas e não o dos usuários. O governo federal precisa tomar a frente no processo de construção de um transporte público de verdade. A municipalização da CIDE, e sua destinação integral e exclusiva ao transporte público, representaria um passo nesse caminho em direção à tarifa zero.

A desoneração de impostos, medida historicamente defendida pelas empresas de transporte, vai no sentido oposto. Abrir mão de tributos significa perder o poder sobre o dinheiro público, liberando verbas às cegas para as máfias dos transportes, sem qualquer transparência e controle. Para atender as demandas populares pelo transporte, é necessário construir instrumentos que coloquem no centro da decisão quem realmente deve ter suas necessidades atendidas: os usuários e trabalhadores do sistema.

Essa reunião com a presidenta foi arrancada pela força das ruas, que avançou sobre bombas, balas e prisões. Os movimentos sociais no Brasil sempre sofreram com a repressão e a criminalização. Até agora, 2013 não foi diferente: no Mato Grosso do Sul, vem ocorrendo um massacre de indígenas e a Força Nacional assassinou, no mês passado, uma liderança Terena durante uma reintegração de posse; no Distrito Federal, cinco militantes do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) foram presos há poucas semanas em meio às mobilizações contra os impactos da Copa do Mundo da FIFA. A resposta da polícia aos protestos iniciados em junho não destoa do conjunto: bombas de gás foram jogadas dentro de hospitais e faculdades; manifestantes foram perseguidos e espancados pela Polícia Militar; outros foram baleados; centenas de pessoas foram presas arbitrariamente; algumas estão sendo acusadas de formação de quadrilha e incitação ao crime; um homem perdeu a visão; uma garota foi violentada sexualmente por policiais; uma mulher morreu asfixiada pelo gás lacrimogêneo. A verdadeira violência que assistimos neste junho veio do Estado – em todas as suas esferas.

A desmilitarização da polícia, defendida até pela ONU, e uma política nacional de regulamentação do armamento menos letal, proibido em diversos países e condenado por organismos internacionais, são urgentes. Ao oferecer a Força Nacional de Segurança para conter as manifestações, o Ministro da Justiça mostrou que o governo federal insiste em tratar os movimentos sociais como assunto de polícia. As notícias sobre o monitoramento de militantes feito pela Polícia Federal e pela ABIN vão na mesma direção: criminalização da luta popular.

Esperamos que essa reunião marque uma mudança de postura do governo federal que se estenda às outras lutas sociais: aos povos indígenas, que, a exemplo dos Kaiowá-Guarani e dos Munduruku, tem sofrido diversos ataques por parte de latifundiários e do poder público; às comunidades atingidas por remoções; aos sem-teto; aos sem-terra e às mães que tiveram os filhos assassinados pela polícia nas periferias. Que a mesma postura se estenda também a todas as cidades que lutam contra o aumento de tarifas e por outro modelo de transporte: São José dos Campos, Florianópolis, Recife, Rio de Janeiro, Salvador, Goiânia, entre muitas outras.

Mais do que sentar à mesa e conversar, o que importa é atender às demandas claras que já estão colocadas pelos movimentos sociais de todo o país. Contra todos os aumentos do transporte público, contra a tarifa, continuaremos nas ruas! Tarifa zero já!

Toda força aos que lutam por uma vida sem catracas!

Movimento Passe Livre São Paulo

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Prelúdio de um golpe?

Logo após a participação no quinto grande ato contra o aumento da tarifa do transporte público, postei em meu perfil das redes sociais alguns pontos que haviam me preocupado durante a marcha,

  • Gente enrolada em bandeira do Estado de São Paulo. Que porra é essa? Eles passaram antes em uma agência do Bradesco pra roubar essa porra ou surrupiaram do avô deles que participou da Revolução de 32???
  • Muita gente censurando o pessoal que estava com bandeiras e camisetas de partidos e grupos de movimentos sociais, como MST, UNE, Sindicais, etc. Por quê??? Então o negócio é esse? Esse pessoal constrói o movimento, vai pras ruas durante anos e junto com outros movimentos sociais ajudam a criar uma luta na qual, ontem, muita gente foi participar pela primeira vez e, justamente, esse pessoal vai pra lá pra expulsá-los da marcha? A quem interessa uma luta SEM PARTIDOS ou melhor, a quem interessa que os partidos que construíram essa luta sejam desacreditados? A cada vez que gritavam SEM PARTIDO na manifestação, tentava ajudar a gritar SEM CENSURA, pois aquele pessoal, legitimamente, tem o direito e o dever de estarem na manifestação.
  • Como não poderia deixar de ser, muita gente vestida de branco ou com cartazes pela PEC 37 e outros objetivos. Ora, a manifestação era contra o aumento das tarifas. Foi só depois das quatro primeiras manifestações, que a TV, jornais e demais órgãos da grande mídia passaram a apoiar o grande número das pessoas que iam as ruas e, tentando aproveitar-se disso, quiseram pautar a manifestação, dizendo como os manifestantes deveriam se vestir e que cartazes deveriam carregar. Quantos e quantos cartazes atendendo o insistente pedido do Arnaldo Jabor não vi na manifestação ontem? Quantas e quantas pessoas vestidas de Branco com pautas mil querendo dividir a manifestação? Eu não fui pra rua correr atrás do Caco Barcellos e impedi-lo de gravar seu programa bosta para a TV que ele trabalha. Eu fui me manifestar contra o aumento das tarifas de ônibus. Em um dado momento, durante a concentração no Lgo. da Batata, um grande grupo saiu da concentração para perseguir o jornalista e gritar palavras de ordem contra sua emissora. BACANA, também não gosto da emissora e do seu papel. Mas eu não fui lá pra isso. Durante 1h esse grupo com muitas pessoas ficou gritando e acompanhando o jornalista. A maior parte dessas pessoas, as mesmas que gritavam SEM PARTIDO e queriam queimar as bandeiras do PSTU, PSOL e PCO. Alguns conseguiram tomar a bandeira de uma das manifestantes e rasgá-la. Outro conseguiu atear fogo em uma delas. Eu sei, parece confuso. Como uma pessoa que persegue a Rede Globo na manifestação pode vir pra manifestação atendendo a pauta veiculada nesse canal? Mas foi assim que eu vi e, honestamente, achei isso bastante lamentável.
  • Espero encontrar cada vez menos esse tipo de comportamento, mas sei que será inevitável. Lamento muito ver, a cada momento, UOL, Folha, Terra, Veja, Globo tentando se apoderar das manifestações para atenderem suas pautas, suas demandas. É lamentável ouvir o Jabor se desculpando para tentar infiltrar cada vez mais gente no movimento contra as tarifas de ônibus com outras reivindicações. É triste ver as bandeiras de São Paulo enroladas nos corpos de manifestantes, é muito triste.

Pois bem, hoje, dia 20/06, o amigo Thiago Virgílio me recomendou a leitura de um texto publicado por uma socióloga que, também ao observar alguns “fatos estranhos” durante as manifestações em São Paulo, acredita que o que temos observado são sinais claros de um Golpe sendo arquitetado pelas partes mais conservadores deste país, com participação da Grande Mídia.

Por essa razão, o Hum Historiador repercute texto da socióloga Marília Moschkovich, publicado no blog Primavera Brasileira, em 19/06/2013, onde ela aponta essa série de fatos estranhos que ela observou durante sua participação nessa semana de manifestações em São Paulo.

ESTÁ TUDO TÃO ESTRANHO, E NÃO É À TOA
Um relato do quebra-cabeças que fui montando nos últimos dias. Aviso que o post é longo, mas prometo fazer valer cada palavra.

por Marília Moschkovich, publicado originalmente em Primavera Brasileiraaos 19/06/2013.

1. Contexto é bom e mantém a pauta no lugar

Hoje é dia 18 de junho de 2013. Há uma semana, no dia 10, cerca de 5 mil pessoas foram violentamente reprimidas pela Policia Militar paulista na Avenida Paulista, símbolo da cidade de São Paulo. Com a transmissão dos horrores provocados pela PM pela internet, muitas pessoas se mobilizaram para participar do ato seguinte, que seria realizado no dia 13. A pauta era a revogação no aumento das tarifas de ônibus, que já são caras e já excluem diversos cidadãos se seu direito de ir e vir, frequentando a própria cidade onde moram.

No dia 13, então, aconteceu a primeira coisa estranha, que acendeu uma luzinha amarela (quase vermelha de tão laranja) na minha cabeça: os editoriais da folha e do estadão aprovavam o que a PM tinha feito no dia 10 de junho e, mais do que isso, incentivavam ações violentas da pm“em nome do trânsito” [aliás, alguém me faz um documentário sensacional com esse título, faz favor? ]. Guardem essa informação.

Logo após esses editoriais, no fim do dia, a PM reprimiu cerca de 20milpessoas. Acompanhei tudo de casa, em outra cidade. Na primeira hora de concentração para a manifestação foram presas 70 pessoas, por sua intenção de participar do protesto. Essa intenção era identificada pela PM com o agora famoso “porte de vinagre” (já que vinagre atenua efeitos do gás lacrimogêneo). Muitas pessoas saíram feridas nesse dia e, com os horrores novamente transmitidos – mas dessa vez também pelos grandes meios de comunicação, inclusive esses dos editoriais da manhã, que tiveram suas equipes de reportagem gravemente feridas -, muita gente se mobilizou para o próximo ato.

2. Desonestidade pouca é bobagem

No próprio dia 13, à noite, aconteceu a segunda “coisa estranha”. Logo no final da pancadaria na região da Paulista, sabíamos que o próximo ato seria na segunda-feira, dia 17 de junho. Me incluíram num evento no Facebook, com exatamente o mesmo nome dos eventos do MPL, as mesmas imagens, bandeiras, etc. Só que marcado para sexta-feira, o dia seguinte. Eu dei “ok”, entrei no evento, e comecei a reparar em posts muito, mas muito esquisitos. Bandeiras que não eram as do MPL (que conheço desde adolescente), discursos muito voltados à direita, entre outros. O que estava ali não era o projeto de cidade e de país que eu defendo, ou que o MPL defende.

Dei uma olhada melhor: eram três pessoas que haviam criado o evento. Fucei o pouco que fica público no perfil de cada um. Não encontrei nenhuma postagem sobre nenhuma causa política. Apenas postagens sobre outros assuntos. Lá no fim de um dos perfis, porém, encontrei uma postagem com um grupo de pessoas em alguma das tais marchas contra a corrupção. Alguma coisa com a palavra “Juventude”, não me lembro bem. Ficou claro que não tinha nada a ver com o MPL e, pior que isso, estavam tentando se passar pelo MPL.

Alguém me deu um toque e observei que a descrição dizia o trajeto da manifestação (coisa que o MPL nunca fez, até hoje, sabiamente). Além disso, na descrição havia propostas como “ir ao prédio da rede globo” e “cantar o hino nacional”, “todos vestidos de branco”. O alerta vermelho novamente acendeu na minha cabeça. Hino nacional é coisa de integralista, de fascista. Vestir branco é coisa de movimentos em geral muito ou totalmente despolitizados. Basta um mínimo de perspectiva histórica pra sacar. Pois bem.

Ajudei a alertar sobre a desonestidade de quem quer que estivesse organizando aquilo e meu alerta chegou a uma das pessoas que, parece, estavam envolvidas nessa organização (ou conhecia quem estava). O discurso dela, que conhece alguém que eu conheço, era totalmente despolitizado. Ela falava em “paz”, “corrupção” e outras palavras de ordem vazias que não representam reivindicação concreta alguma, e muito menos um projeto de qualquer tipo para a sociedade, a cidade de São Paulo, etc. Mais um pouco de perspectiva histórica e a gente entende no que é que palavras de ordem e reivindicações vazias aleatórias acabam. Depois de fazer essa breve mobilização na internet com várias outras pessoas, acabaram mudando o nome e a foto do evento, no próprio dia 13 de noitão. No dia seguinte transferiram o evento para a segunda-feira, “para unir as forças”, diziam.

3. E o juiz apita! Começa a partida!

Seguiu-se um final de semana extremamente violento em diversos lugares do país. Era o início da Copa das Confederações e muitos manifestantes foram protestar pelo direito de protestarem. O que houve em sp mostrou que esse direito estava ameaçado. Além disso, com a tal “lei da copa”, uma legislação provisória que vale durante os eventos da FIFA, em algumas áreas publicas se tornam proibidas quaisquer tipos de manifestações políticas. Quer dizer, mais uma ameaça a esse direito tão fundamental numa [suposta] democracia.

No final de semana as manifestações não foram tão grandes, mas significativas em ao menos três cidades: Belo Horizonte, Brasília e Rio de Janeiro. No DF e no RJ as polícias militares seguiram a receita paulista e foram extremamente violentas. A polícia mineira, porém, parecia um exemplo de atuação cidadã, que repassamos, compartilhamos e apoiamos em redes sociais do lado de cá do sudeste.

Não me lembro bem, mas acho que foi no intervalo entre uma coisa e outra que percebi a terceira “coisa estranha”. Um pouco depois do massacre na região da Paulista, e um pouco antes do final de semana de horrores, mais um sinal: ficamos sabendo que uma conhecida distante, depois do dia 13, pegou um ônibus para ir ao Rio de Janeiro. Essa pessoa contou que a PM paulista parou o ônibus na estrada, antes de sair do Estado de São Paulo. Mandaram os passageiros descerem e policiais entraram no veículo. Quando os passageiros subiram novamente, todas as coisas, bolsas, malas e mochilas estavam reviradas. A policial perguntou a essa pessoa se ela tinha participado de algum dos protestos. Pediu pra ver o celular e checou se havia vídeos, fotografias, etc.

Não à toa e no mesmo “clima”, conto pra vocês a quarta “coisa estranha”: descobrimos que, após o ato em BH, um rapaz identificado como uma das lideranças políticas de lá foi preso, em sua casa. Parece que a nossa polícia exemplar não era tão exemplar assim, mas agora ninguém compartilhava mais. Coisas semelhantes aconteceram em Brasília, antes mesmo das manifestações começarem.

4. Sequestraram a pauta?

Então veio a segunda-feira. Dia 17 de junho de 2013. Ontem. Havia muita gente se prontificando a participar dos protestos, guias de segurança compartilhados nas redes, gente montando pontos de apoio, etc. Uma verdadeira mobilização para que muita gente se mobilizasse. Estávamos otimistas.

Curiosamente, os mesmos meios de comunicação conservadores que incentivaram as ações violentas da PM na quinta-feira anterior (13) de manhã, em seus editoriais, agora diziam que de fato as pessoas deveriam ir às ruas. Só que com outras bandeiras. Isso não seria um problema, se as pessoas não tivessem, de fato, ido à rua com as bandeiras pautadas por esses grupos políticos (representados por esses meios de comunicação). O clima, na segunda-feira, era outro. Era como se a manifestação não fosse política e como se não estivesse acontecendo no mesmo planeta em que eu vivo. Meu otimismo começou a decair.

A pauta foi sequestrada por pessoas que estavam, havia alguns dias, condenando os manifestantes por terem parado o trânsito, e que são parte dos grupos sociais que sempre criminalizaram os movimentos sociais no Brasil (representados por um pedaço da classe política, estatisticamente o mais corrupto – não, não está nem perto de ser o PT -, e pelos meios de comunicações que se beneficiam de uma política de concessões da época da ditadura). De repente se falava em impeachment da presidenta. As pessoas usavam a bandeira nacional e se pintavam de verde e amarelo como ordenado por grandes figurões da mídia de massas, colunistas de opinião extremamente populares e conservadores.

As reações de militantes variavam. Houve quem achasse lindo, afinal de contas, era o povo nas ruas. Houve quem desconfiasse. Houve quem se revoltasse. Houve quem, entre todos os sentimentos possíveis, ficasse absolutamente confuso. Qualquer levante popular em que a pauta não eh muito definida cria uma situação de instabilidade política que pode virar qualquer coisa. Vimos isso no início do Estado Novo e no golpe de 1964, ambos extremamente fascistas. Não quer dizer que desta vez seria igual, mas a história me dizia pra ficar atenta.

5. Não, sequestraram o ato!

A passeata do dia 17, segunda-feira, estava marcada para sair do Largo da Batata, que fica numa das pontas da avenida Faria Lima. Não se sabia, não havia decisão ainda, do que se faria depois. Aos que não entendem, a falta de um trajeto pré-definido se justifica muito bem por duas percepções: (i) a de que é fácil armar emboscadas para repressão quando divulga-se o trajeto; e, (ii) mais importante do que isso, a percepção de que são as pessoas se manifestando, na rua, que devem definir na hora o que fazer. [e aqui, se vocês forem espertos, verão exatamente onde está a minha contradição – que não nego, também me confunde]

A passeata parecia uma comemoração de final de copa do mundo. Irônico, não? Começamos a teorizar (sem muita teoria) que talvez essa fosse a única referência de manifestações públicas que as pessoas tivessem, em massa:o futebol. Os gritos eram do futebol, as palavras de ordem eram do futebol. Muitas camisetas também eram do futebol.Havia inclusive uns imbecis soltando rojões, o que não é muito esperto pois pode gerar muito pânico considerando que havia poucos dias muita gente ali tinha sido bombardeada com gás lacrimogêneo. Havia pessoas brincando com fogo. [guardem essa informação do fogo também]

Agora uma pausa: vocês se lembram do fato estranho número dois? O evento falso no facebook? Bom, o trajeto desse evento falso incluía a Berrini, a ponte Estaiada e o palácio dos Bandeirantes, sede do governo do Estado. Reparem só.

Quando a passeata chegou ao cruzamento da Faria Lima com a Juscelino, fomos praticamente empurrados para o lado direito. Nessa hora achamos aquilo muito esquisito. Em nossas cabeças, só fazia sentido ir à Paulista, onde havíamos sido proibidos de entrar havia alguns dias. Era uma questão de honra, de simbologia, de tudo. Resolvemos parar para descobrir se havia gente indo para o lado oposto e subindo a Brigadeiro até a Paulista. Umas amigas disseram que estavam na boca do túnel. Avisei pra não irem pelo túnel que era roubada. Elas disseram então que estavam seguindo a passeata pela ponte, atravessando a Marginal Pinheiros.

Demoramos um tanto pra descobrirmos, já prontos pra ir para casa broxados, que havia gente subindo para o outro lado. Gente indo à esquerda. Era lá que preferíamos estar. Encontramos um outro grupo de pessoas conhecidas e amigas e seguimos juntos. As palavras de ordem não mudaram. Eram as mesmas em todos os lugares. As pessoas reproduziam qualquer frase de efeito tosca de manira acrítica, sem pensar no que estavam dizendo. Efeito “multidão”, deve ser.

As frases me incomodaram muito. Nem uma só palavra sobre o governador que ordenara à PM descer bala, cassetete e gás na galera havia poucos dias. Que promove o genocídio da juventude negra nessa cidade todos os dias, há 20 anos. Nem mesmo uma. Os culpados de todos os problemas do mundo, para os verde-amarelos-bandeira-hino eram o prefeito e a presidenta. Ou essas pessoas são ignorantes, ou são extremamente desonestas.

Nem chegamos à Paulista, incomodados com aquilo. Fomos para casa nos sentindo muito esquisitos. Aí então conseguimos entender que aquelas pessoas do evento falso no facebook tinham conseguido de alguma maneira manobrar uma parte muito grande de pessoas que queria ir se manifestar em outro lugar. A falta de informação foi o que deu poder para esse grupo naquele momento específico. Mas quem era esse grupo? Não sei exatamente. Mas fiquei incomodada.

6. O centro em chamas.

Quem diria que essa sensação bizarra e sem nome da segunda-feira faria todo sentido no dia seguinte? Fez. Infelizmente fez. O dia seguinte, “hoje”, dia 18 de junho de 2013, seria decisivo. Veríamos se as pessoas se desmobilizariam, se a pauta da revogação do aumento se fortaleceria. Essa era minha esperança que, infelizmente, não se confirmou. A partir daqui são todos fatos recentes, enquanto escrevo e vou tentar explica-los em ordem cronológica. Aviso que foram fazendo sentido aos poucos, conforme falávamos com pessoas, ouvíamos relatos, descobríamos novas informações. Essa é minha tentativa de relatar o que eu vi, vivi, experienciei.

No fim da tarde, pegamos o metrô Faria Lima lotadíssimo um pouco depois do horário marcado para a manifestação. Perguntei na internet, em redes sociais, se o ato ainda estava na concentração ou se estava andando, e para onde. Minha intenção era saber em qual estação descer. Me disseram, tomando a televisão como referencia (que é a referencia possível, já que não havia um único comunicado oficial do MPL em lugar algum) que o ato estava na prefeitura. Guardem essa informação.

Fomos então até o metrô República. Helicópteros diversos sobrevoavam a praça e reparei na quinta “coisa estranha”: quase não havia polícia. Acho que vimos uns três ou quatro controlando curiosamente aENTRADA do metrô e não a saída… Quer dizer, quem entrasse no metro tinha mais chance de ser abordado do que quem estava saindoao contrário do dia 13.

A manifestação estava passando ali e fomos seguindo, até que percebemos que a prefeitura era outro lado. Para onde estavam indo essas pessoas? Não sabíamos, mas pelos gritos, pelo clima de torcida de futebol, sabíamos que não queríamos estar ali, endossando algo em que não acreditávamos nem um pouco e que já estávamos julgando sermeio perigoso. Quando passamos em frente à câmara de vereadores, a manifestação começou a vaiar e xingar em massa. Oras, não foram eles também que encheram aquela câmara com vereadores? O discurso de ser “apolítico” ou “contra” a classe política serve a um único interesse, a história e a sociologia nos mostram: o dos grupos conservadores para continuarem tocando a estrutura social injusta como ela é, sem grandes mudanças. Pois era esse o discurso repetido ali.

Resolvemos então descer pela rua Jandaia e tentar voltar à Sé, poisdisseram nas redes sociais que o ato real, do MPL, estava no Parque Dom Pedro. Como aquilo fazia mais sentido do que um monte de pessoas bem esquisitas, com cartazes bem bizarros, subindo para a Paulista, lá fomos nós.

Outro fato estranho, número seis:no meio da Rua Jandaia, num local bem visível para qualquer passante nos viadutos do centro, um colchão em chamas. A manifestação sequer tinha passado ali. Uma rua deserta e um colchão em chamas. Para quê? Que tipo de sinal era aquele? Quem estava mandando e quem estava recebendo? Guardamos as mascaras de proteção com medo de sermos culpados por algo que não sabíamos sequer de onde tinha vindo e passamos rápido pela rua.

Cruzamos com a mesma passeata, mais para cima, que vinha lá da região que fica mais abaixo da Sé, mas não sabíamos ainda de onde. Atrás da catedral, esperamos amigos. Uma amiga disse que o marido estava chateado porque não conseguiu pegar trem na Vila Olímpia. Achamos normal, às vezes a CPTM trava mesmo, daí essa porcaria de transporte e os protestos, etc. pois bem. Guardem a informação.

Uma amiga ligou dizendo que estava perto do teatro municipal e do Vale do Anhangabaú, que estava “pegando fogo”. Imbecil que me sinto agora, na hora achei que ela estava falando que estava cheio de gente, bacana, legal. [que tonta!] Perguntei se era o ato do MPL, se tinha as faixas do MPL. Ela disse que sim mas não confiei muito.Resolvemos ir ver.

[A partir daqui todos os fatos são “estranhos”. Bem estranhos.]

O clima no centro era muito tenso quando chegamos lá. Em nenhum dos outros lugares estava tão tenso. Tudo muito esquisito sem sabermos bem o quê. Os moradores de rua não estavam como quem está em suas casas. Os moradores de rua estavam atentos, em cantos, em grupos. Poucos dormiam. Parecia noite de operação especial da PM (quem frequenta de verdade a cidade de São Paulo, e não apenas o próprio bairro, sabe bem o que é isso entre os moradores de rua).

Só que era ainda mais estranho: não havia polícia. Não havia polícia no centro de São Paulo à noite. No meio de toda essa onda. Não havia polícia alguma. Nadinha de nada, em lugar nenhum.

Na Sé, descobrimos mais ou menos o caminho e fomos mais ou menos andando perto de outras pessoas. Um grupo de franciscanos estava andando perto de nós, também. Vimos uma fumaça preta. Fogo. MUITO fogo. Muito alto. O centro em chamas.

Tentamos chegar mais perto e ver. Havia pessoas trepadas em construções com latas de spray enquanto outros bradavam em volta daquela coisa queimando que não conseguíamos identificar. Outro colchão? Os mesmos que deixaram o colchão queimando na Jandaia? Mas quem eram eles?

De repente algumas pessoas gritaram e nós,mais outros e os franciscanos, corremos achando que talvez o choque estaria avançando. Afinal de contas, era óbvio que a polícia iria descer o cacete em quem tinha levantado aquele fogaréu (aliás, será q ela só tinha visto agora, que estava daquele tamanho todo?). Só que não.

Na corrida descobrimos que era a equipe da TV Record. Estavam fugindo do local – a multidão indo pra cima deles – depois de terem o carro da reportagem queimado. Não, não era um colchão. Era o carro de reportagem de uma rede de televisão. O olhar no rosto da repórter me comoveu. Ela, como nós, não conseguia encontrar muito sentido em tudo que estava acontecendo. Ao lado de onde conversávamos, uns quatro policiais militares. Parados. Assistindo o fogo, a equipe sendo perseguida… Resolvemos dar no pé que bobos nós não somos. Tinha algo muito, mas muito errado (e estranho) ali.

Voltamos andando bem rápido para a Sé, onde os moradores de rua continuavam alertas, e os franciscanos tentavam recolher pertences caídos pelo chão na fuga e se organizarem novamente para dar continuidade a sua missão. Nós não fomos tão bravos e decidimos voltar para nossas casas.

7. Prelúdio de um… golpe?

No metrô um aviso: as estações de trem estavam fechadas. É, pois é, aquela coisa que havíamos falado antes e tal. Mal havíamos chegado em casa, porém, uma conhecida posta no facebook que um amigo não conseguiu chegar em lugar nenhum porque algumas pessoas invadiram os trilhos da CPTM e várias estações ficaram paradas, fechadas. Não era caos “normal” da CPTM, nem problemas “técnicos” como a moça anunciava. Era de propósito. Seriam os mesmos do colchão, do carro da Record?

Lemos, em seguida, em redes sociais, que havia pessoas saqueando lojas e destruindo bancos no centro. Sabíamos que eram o mesmos. Recebi um relato de que uma ocupação de sem-teto foi alvo de tentativa (?) de incêndio. Naquele momento sabíamos que, quem quer que estivesse por trás do “caos” no centro, da depredação de ônibus na frente do Palácio dos Bandeirantes no dia anterior, de tentativas de criar caos na prefeitura, etc. não era o MPL.Também sabíamos que não era nenhum grupo de esquerda: gente de esquerda não quer exterminar sem-teto. Esse plano é de outro grupo político, esse que manteve a PM funcionando nos últimos 20 anos com a mesma estrutura da época da ditadura militar.

Algum tempo depois, mais uma notícia: em Belo Horizonte, onde já se fala de chamar a Força Nacional e onde os protestos foram violentíssimos na segunda-feira, havia ocorrido a mesma coisa.Depredação total do centro da cidade, sem nenhum policial por perto. Nenhunzinho. Muito estranho.

Nessa hora eu já estava convencida de que estamos diante de uma tentativa muito séria de golpe, instauração de estado de exceção, ou algod do tipo. Muito séria. Muito, muito, muito séria. Postei algumas coisas no facebook, vi que havia pessoas compartilhando da minha sensação. Sobretudo quem havia ido às ruas no dia de hoje.

Um pouquinho depois, outra notícia: a nova embaixadora dos EUA no Brasil é a mesma embaixadora que estava trabalhando no Paraguai quando deram um golpe de estado em Fernando Lugo.

Me perguntaram e eu não sei responder qual golpe, nem por que. Mas se o debate pela desmilitarização da polícia e pelo fim da PM parece que finalmente havia irrompido pelos portões da USP, esse seria um ótimo motivo. Nem sempre um golpe é um golpe de Estado. Em 1989 vivemos um golpe midiático de opinião pública, por exemplo. Pode ser que estejamos diante de outro. Essa é a impressão que, ligando esses pontos, eu tenho.

Já vieram me falar que supor golpe “desmobiliza” as pessoas, que ficam em casa com medo. De forma alguma. Um “golpe” não são exércitos adentrando a cidade. Não necessariamente. Um “golpe” pode estar baseado na ideia errônea de que devemos apoiar todo e qualquer tipo de indignação, apenas porque “o povo na rua é tão bonito!”.

Curiosamente, quando falei sobre a manifestação do dia 13 com meus alunos, no dia 14, vários deles me perguntaram se havia chances de golpes militares, tomadas de poder, novas ditaduras. A minha resposta foi apenas uma, que ainda sustento sobre este possível golpe de opinião pública/mídia: em toda e qualquer tentativa de golpe, o que faz com que ela seja ou não bem-sucedida é a resposta popular ao ataque. Em 1964, a resposta popular foi o apoio e passamos a viver numa ditadura. Nos anos 2000, a reposta do povo venezuelano à tentativa de golpe em Chávez foi a de rechaço, e a democracia foi restabelecida.

O ponto é que depende de nós. Depende de estarmos nas ruas apoiando as bandeiras certas (e há pessoas se mobilizando para divulgar em tempo real, de maneira eficaz, onde está o ato contra o aumento da passagem, porque já não podemos dizer que é apenas “um” movimento, como fez Haddad em sua entrevista coletiva). Depende de nos recusarmos a comprar toda e qualquer informação. Depende de levantarmos e irmos ver com nossos próprios olhos o que está acontecendo.


Se essa sequencia de fatos faz sentido pra você, por favor leia e repasse o papel. Faça uma cópia. Guarde. Compartilhe. Só peço o cuidado de compartilharem sempre integralmente. Qualquer pessoa mal-intencionada pode usar coisas que eu disse para outros fins. Não quero isso.

Quero apenas que vocês sigam minha linha de raciocínio e me digam: estamos mesmo diante da possibilidade iminente de um golpe?

Estou louca?

Espero sinceramente que sim. Mas acho que não.


Neste exato momento, acaba de ser publicado uma notícia no Portal G1, da Rede Globo, com a seguinte manchete: COMISSÃO REGULAMENTA ELEIÇÃO EM CASO DE VACÂNCIA DA PRESIDÊNCIA. Dado o histórico de apoio deste grupo ao Golpe de Estado de 1964, é ou não é para botarmos nossas barbas de molho???

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Revogado o aumento da tarifa de ônibus, metrô e trem em São Paulo

ALCKMIN E HADDAD ANUNCIAM EM CONJUNTO A REVOGAÇÃO DO AUMENTO DA TARIFA DE ÔNIBUS, METRÔ E CPTM

Hoje, dia 19/06/2013, o governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSDB) e o prefeito da cidade, Fernando Haddad (PT)  anunciaram a revogação do aumento da tarifa de ônibus, metrô e trem na cidade de São Paulo, fazendo com que a tarifa voltasse aos R$ 3,00 que eram pagos antes do dia 02/06.

PasseLivreUma vitória de toda a população que saiu nas ruas pra protestar, mas em especial, do MOVIMENTO PASSE LIVRE. Gostaria de parabenizar por todos os ativistas do movimento pelos anos de batalha para construir essa luta e, na hora das grandes manifestações, por se manterem bravamente e saberem conduzir a pauta até que a reivindicação principal fosse atendida.

Pouco antes da notícia da revogação, a Zona Sul ainda se manifestava na rua contra os aumentos. No Largo de Piraporinha, o ato começou por volta das 7h da manhã e durou, de modo intermitente, o dia todo. Ainda agora as pessoas comemoram nas ruas a revogação dos aumentos.

Em entrevista coletiva, o governador Geraldo Alckmin falou que o retorno da tarifa para R$ 3,00 representa um “sacrifício” e acrescentou que  “as empresas não tem como arcar com essa diferença” e por isso o dinheiro virá dos cofres públicos para que a mudança seja possível. Já o prefeito afirmou que “investimentos serão comprometidos” por conta disso. Ambos decidiram onerar as contas públicas para proteger o lucro dos empresários do transporte público.

O Hum Historiador apóia a luta do Movimento Passe Livre para acabar de vez com a tarifa no transporte público, já que entende ser essa uma decisão política que pode, sim, muito bem ser tomada por nossos governantes para garantir o acesso das pessoas à cidade.

TODA FORÇA AO MOVIMENTO PASSE LIVRE!!!!

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RODA VIVA entrevista ativistas do Movimento Passe Livre

Foto: Passe Livre

SE A TARIFA NÃO BAIXAR, A CIDADE VAI PARAR

No dia 17/06, mesmo dia da 5a. grande manifestação contra o aumento da tarifa do transporte público, o programa Roda-Viva da TV Cultura entrevistou dois ativistas do Movimento Passe Livre, Nina Cappello e Lucas Monteiro de Oliveira.

Para quem estava na manifestação e não teve a oportunidade de assistir, abaixo segue o vídeo com a íntegra do programa.

Nina afirma que o MPL tem um objetivo claro: a luta contra o aumento das passagens. Ela revela que Fernando Haddad convocou os militantes para participarem da reunião do Conselho da cidade, que acontece nesta terça-feira, 18. Mas Nina diz que ainda seria necessária uma reunião na quarta-feira, 19, com o prefeito. Durante os protestos desta segunda, Geraldo Alckmin anunciou à imprensa que estaria aberto a diálogos sobre tarifas. Enquanto não há de fato um acordo, a militante diz que as manifestações continuarão: “Se o governo não baixar a tarifa, vamos continuar nas ruas”.

Lucas também defende que o objetivo do MPL é a redução da passagem, mas diz que é a favor da taxa zero: “É uma decisão política o aumento, assim com é uma decisão política a existência da tarifa. Há cidades no Brasil, como outros países, em que existe a tarifa zero”.

Ele critica as empresas de ônibus, que têm lucro garantido, no entanto falham com a prestação de serviço. Segundo Lucas, o governo poderia renegociar esses valores, porém as autoridades não demostram interesse. De acordo com o militante, as empresas estariam lucrando cerca de R$ 15 mil por veículo.

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VLADIMIR SAFATLE: Proposta Concreta

Coluna publicada pelo professor Vladimir Safatle na Folha de 18/06/2013.

PROPOSTA CONCRETA

Há várias maneiras de esconder uma grande manifestação. Você pode fazer como a Rede Globo e esconder uma passeata a favor das Diretas-Já, afirmando que a população nas ruas está lá para, na verdade, comemorar o aniversário da cidade de São Paulo.

Mas você pode transformar manifestações em uma sucessão de belas fotos de jovens que querem simplesmente o “direito de se manifestar”. Dessa forma, o caráter concreto e preciso de suas demandas será paulatinamente calado.

O que impressiona nas manifestações contra o aumento do preço das passagens de ônibus e contra a imposição de uma lógica que transforma um transporte público de péssima qualidade em terceiro gasto das famílias é sua precisão.

Como as cidades brasileiras transformaram-se em catástrofes urbanas, moldadas pela especulação imobiliária e pelas máfias de transportes, nada mais justo do que problematizar a ausência de uma política pública eficiente.

Mas, em uma cidade onde o metrô é alvo de acusações de corrupção que pararam até em tribunais suíços e onde a passagem de ônibus é uma das mais caras do mundo, manifestantes eram, até a semana passada, tratados ou como jovens com ideias delirantes ou como simples vândalos que mereciam uma Polícia Militar que age como manada enfu-recida de porcos.

Vários deleitaram-se em ridicularizar a proposta de tarifa zero. No entanto, a ideia original não nasceu da cabeça de “grupelhos protorrevolucionários”. Ela foi resultado de grupos de trabalho da própria Prefeitura de São Paulo, quando comandada pelo mesmo partido que agora está no poder.

Em uma ironia maior da história, o PT ouve das ruas a radicalidade de propostas que ele construiu, mas que não tem mais coragem de assumir.

A proposta original previa financiar subsídios ao transporte por meio do aumento progressivo do IPTU. Ela poderia ainda apelar a um imposto sobre o segundo carro das famílias, estimulando as classes média e alta a entrar no ônibus e a descongestionar as ruas.

Apenas nos EUA, ao menos 35 cidades, todas com mais de 200 mil habitantes, adotaram o transporte totalmente subsidiado. Da mesma forma, Hasselt, na Bélgica, e Tallinn, na Estônia. Mas, em vez de discussão concreta sobre o tema, a população de São Paulo só ouviu, até agora, ironias contra os manifestantes.

Ao menos, parece que ninguém defende mais uma concepção bisonha de democracia, que valia na semana passada e compreendia manifestações públicas como atentados contra o “direito de ir e vir”. Segundo essa concepção, manifestações só no pico do Jaraguá. Contra ela, lembremos: democracia é barulho.

Quem gosta de silêncio prefere ditaduras.

Vladimir Safatle é professor livre-docente do Departamento de filosofia da USP (Universidade de São Paulo). Escreve às terças na Página A2 da versão impressa.

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